Não raras vezes dou comigo a pensar que um dos principais problemas do Benfica, se não mesmo o principal, é o severo excesso de benfiquistas. Esta matéria devia ser alvo de reflexão, porque se aos jogadores se lhes pede que honrem e dignifiquem a camisola que Águas, Eusébio, Coluna e Cosme Damião, ele próprio, usaram, aos adeptos não deve exigir-se menos do que dignificar as bancadas - ainda que metafóricas - em que o meu Avô sentou o rabo.
Por vezes sinto que há muito quem se afirme Encarnado - e acredito que acreditem que o são -, mas que, na verdade, nasceu com outras vocações clubísticas. Como diria a Merkel, não temos todos de ser doutores, também fazem falta canalizadores especializados; da mesma forma, não temos todos de ser d'O Grande.
Estes adeptos a que me refiro encaram muito mal duas situações. A primeira é a derrota. Por alguma razão estranha, consideram ultrajante que o Benfica possa algum dia perder. Quando tal sucede, olham para o universo em busca de um sinal, de um indício, de uma pista que lhes possa sugerir um culpado. Normalmente, o culpado é "o Jesus". Se não for, é provável que a culpa seja do árbitro.
O que nos leva à segunda situação que esse tipo de benfiquista tem grande dificuldade em digerir: a existência do adversário. Para esse benfiquista, os 11 elementos do outro lado do campo são pinos que precisamos de contornar de modo a obter vários golos e assim cumprir o que estava destinado desde sempre: ganhar todos os jogos e de goleada. O próprio desafio, em si, a chamada "partida de futebol", é um mero cumprir de protocolo, necessário para validar as vitórias futuras.