Não respondi. Para todos os efeitos, podia perfeitamente nem ter ouvido. "Mas isto existe mesmo? LOL", perguntou ela dirigindo-se a ninguém em particular com aquele riso expresso em letras com que as pessoas se riem agora quando pretendem ser sarcásticas e azedas e más para o Benfica. "Babe, o Benfica pensa em tudo", retorqui. "Até nas nossas mulheres", acrescentei. E espreitei como um gato que estende a cabeça lenta e furtivamente detrás da porta entreaberta. Ela espreitava de volta com um sorriso muito sarcástico naquele rosto sportinguista e magnífico. Apeteceu-me pedi-la em casamento só por causa daquele ar deliciosamente malicioso e para ela aprender que com o Benfica não se brinca, mesmo quando o assunto são os vestidos de noiva.
"Tudo muito bonito" disse ela, virando-se de novo para a TV, citando-me das vezes em que cito um senhor de uma loja chinesa que dizia sempre que "neste estabelecimento, tudo muito bonito. Muuuito bonito". E eu voltei ao meu xadrez mas sem conseguir tirar da ideia a imagem dela vestida com aquele vestido de noiva vermelho, justo e do Benfica, já convertida ao Benfiquismo.
Acendi mais um cigarro e observei de novo o tabuleiro onde as brancas eram cada vez menos e as pretas estavam cada vez mais perto e pensei em como seria um absurdo convertê-la e, assim, amputá-la de uma das suas mais fascinantes e misteriosas facetas: a de mulher sportingusita que ama um benfiquista como eu. Não sei se algum dia casaremos. Mas não há vestido de casamento tão valioso quanto isto.