sexta-feira, 4 de março de 2011

A salvação

Às vezes penso na vida. Inevitavelmente, penso também na morte. O que é isso de estar morto? Bem sei que há respostas criativas a esta questão. Poupem-nas. Não vou dissertar sobre não existir ou deixar de existir. Nada disso. Este blogue é sobre ser benfiquista ou, melhor, sobre como eu sou benfiquista. Não está aqui em causa um existencialismo mais que teorizado de um ser humano em sofrimento ou no esplendor da vida ou desfrutando da mesma. É o meu diário do meu benfiquismo, apenas isso.
Hoje (ou ontem, que isto das horas tem o seu quê de convenção) soube que um amigo - que eu nunca conheci e de quem não sei (sabia) o nome e a cuja existência real nunca tive acesso - morreu. Comentava num blogue do meu coração. E fazia-o com a sua postura, com a sua excelência, com o seu benfiquismo. Mais velho do que o meu (o benfiquismo) por motivos absolutamente cronológicos. E eu só então me apercebi que, realmente, lá faltavam os seus comentários assíduos há já algum tempo, a sua graça, a sua manifestação. No fundo, ele já lá faltava havia algum tempo. Mas uma pessoa pensa sempre que é "por um motivo qualquer". O dele não era "um qualquer". Era o último de todos.
Mas não é por isso que escrevo. Não sou competente o suficiente para discursos de despedida e não quero, de modo algum, elogiar a sua figura, ainda que blogosférica (para mim), com tristezas e pesares. Escrevo porque às vezes penso na tal coisa de deixar de existir benfiquisticamente. Quantos golos do Benfica eu não vou ver, quantas vitórias não vou festejar, quantos empates não vou lamentar, quantos golos sofridos não me vão irritar, quantas derrotas eu não vou poder sentir com os meus, com os meus benfiquistas todos, com os meus jogadores, com o meu clube? Há tanta coisa do Benfica que ficará para além de mim, depois de mim. E eu aposto que ele, o Arquivo Vivo, lamentaria o mesmo (ou lamentava).
E hoje (ou ontem, vá), ao ler um texto que magnificamente o homenageava, eu encontrei uma espécie de salvação, um conforto para a eventualidade da minha ausência perpétua. Uma frase singela que dizia assim: "hei-de arranjar maneira de continuar a pagar-lhe as quotas, que isso dos gajos que são de um clube só até à morte é coisa de tenrinhos". E eu senti, muito egoisticamente, que quero ter um filho que diga o mesmo por mim, pelas minhas quotas, pela minha existência benfiquista. Que me segure sempre a esta espécie de irmandade, a esta religião bárbara. Porque o Benfica não se deixa assim para trás.

Até sempre, Arquivo Vivo. Cá estaremos contigo, pelos nossos.

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