O futebol devia ser o Falcao com a camisola do Benfica, a jogar três vezes por semana. O Falcao é o herói, mas o herói no significado máximo da expressão. Numa altura em que o futebol foi cruelmente invadido por dois extraterrestres muito mais poderosos do que o homem, Falcao mostra que a condição de humano pode bastar para ser o mais encantador futebolista do planeta nos dias que correm. Este Radamel tem o que falta aos dois monstros: carisma, uma aura de herói popular, charme, paixão genuína. Onde Cristiano e Lionel crescem matematicamente, metodicamente, industrialmente, o colombiano opera para comover, como um poeta, como um esteta. Não lhe basta fazer muito – tem de fazer bonito. Não lhe basta ser eficiente – tem de ser o mais elegante. Não lhe chega festejar um golo – festeja-o como se ganhasse uma batalha, como se deitasse abaixo um inimigo, como se distribuísse justiça e pães pelo povo. Radamel Falcao não é melhor jogador do mundo, não pode; mas é o jogador mais bonito da actualidade.
Que pena que o futebol não seja, não possa ser, Radamel Falcao com a camisola do Benfica. Em vez disso, o meu futebol é um Benfica disputado, mal falado e maltratado, ora de um lado, ora de outro. Vi o Benfica – União de Leiria, fui despedir-me da equipa. Senti desconforto. Aquele Estádio, que é meu, parece uma casa ocupada, disputada entre Vieira e vieiristas, de um lado, e anti-vieiristas, do outro. Já vos expliquei: o Benfica não é do Vieira. Da mesma maneira, também não é dos No Name Boys. É pura e absolutamente meu. E, sempre que eu quiser ir aplaudir a minha equipa e o seu treinador, despedir-me deles – «até qualquer dia!», «até para o ano!», «até nunca mais!»; «obrigado por tudo!», «podias ter feito melhor!», «eu acreditei sempre em ti!» -, não há um – UM! – Benfiquista à face da Terra que tenha o direito de me chamar o que quer que seja. Que manifestem desagrados, acho muito bem; que insultem indiscriminadamente, não posso admitir.
Por tudo isto, também deixei de ler os blogues, que maçadores os blogues!, da mesma forma que deixei de ler n’ A Bola as reportagens amanteigadas sobre Vieira a propagandear-se nas Casas do Benfica, recolhendo apoios, loas, beijinhos e engraxadelas nas botas. Vocês cansam-me. Uns e outros – simplesmente cansam-me. Não me bastava viver num país de políticos que me envergonham, ainda tinham de vir politizar, de maneira tão degradante, o meu Clube? Tirem a vossa política daqui, por favor! Vão brincar aos partidos, às autarquias, às democracias feudalistas, aos sistemas capitalistas, às assembleias e sindicatos, às votações, greves, manifestações, aos referendos, ao que vocês quiserem, onde vocês quiserem: mas deixem o Benfica em paz! Tenham vergonha e tenham lá paciência, mas o Benfica ainda é um clube desportivo – e o meu santuário do Futebol. Tratem-no como tal.
11 comentários:
1977/1978 [por aí] é a minha memória mais longínqua... era assim... o Alves, o Bento, o Shéu, o Nené, o Humberto, o Chalana...
Sinto-me só... porque estamos numa guerra sem quartel e a única coisa que os meus olhos querem é futebol lindo e alegre, vitórias ou derrotas aceito-as... mas quero o meu Benfica de volta! Não quero homens de negócios no meu Benfica, só lá quero benfiquistas... peço muito??? Não peço não... sou um menino de olhos esbugalhados incrédulo perante a finta do Chalana... chamo-me Vitor e tenho 8 anitos e um coração alegre quando vê as camisolas berrantes...
Quero-me de volta! Mereço isso!
Como escriba de um blogue sinto-me insultado, e faço das tuas palavras as minhas palavras...
"Que manifestem desagrados, acho muito bem; que insultem indiscriminadamente, não posso admitir."
Nem todos os blogues de bola são como falas, alguns não falam dessas coisas chatas.
Brincadeirinha. sinto-me lá nada triste. Mas não falo mesmo dessas politiquices. Nem eu nem muitos por aí. Basta saber onde.
Abraço dos Açores
O Radamel é daqueles que, mesmo quando estava no Porto e ainda por cima roubado à última da hora ao Benfica, me enchem de tal forma as medidas que não consigo odiar ou sequer desvalorizar por ser de um rival. É tão mas tão bom que só pode e deve ser apreciado por aquilo que é: um tremendíssimo atacante (não só goleador), uma fera que é jogador e adepto ao mesmo tempo. O golo é... enfim. E os comentários. Os comentários são sempre poemas por aquelas bandas.
Quanto à crítica às politiquices, pode parecer que não - visto que ando muito metido nas trincheiras -, mas concordo. Faz falta mais bola a isto tudo. O problema é que eu sinto muito, e há muito tempo, que o Benfica está entregue aos bichos. E é-me impossível deixá-lo assim e afastar-me.
Faz-nos falta o juízo. O Benfica não pode estar nas mãos de lambões que se bezuntam em trafulhices, nem ser resgatado por rebeldes anarquistas que partem para a violência. Esta Casa ainda é decente! E quem não for decente nesta Casa, só tem um caminho a seguir: o da rua.
Vejo muita escrita, muita barafustação, muita repetição, ira, berros, insultos e palavrões. E não vejo as pessoas a parar para pensar, para debater, para construir. Custa-me.
Dá tu o exemplo. Lança o mote da discussão sem palavrões nem repetições nem insultos nem berros. Mas não te afastes.
O Benfica não é só ir à bola. E este é um momento crucial (mais um) para o futuro do Benfica. Eu - e certamente muitos outros - gostaria de saber o que pensas sobre isto tudo. Constrói, como bem sabes fazer, com cabecinha e lucidez. Dá-nos a tua visão do Benfica. Cá estaremos para o debate.
A minha pergunta é simples: porquê?
Sou o sócio 227128 e existem, pelo menos, mais 30 mil sócios com números superiores ao meu. Não creio que o Benfica tenha de ter 250 mil, ou mais, cabeças a pensar-lhe o futuro. 20 ou 30 bastam, desde que sejam competentes. Eu não quero gerir o Benfica, eu quero é que o Benfica seja bem gerido, com decência.
Acho muita graça à resposta do "queres melhor? Faz tu". O Benfica é mais do que ver a bola. Da mesma maneira que ser cidadão é mais - muito mais - do que votar nas eleições. Da mesma maneira, quando eu critico o ministro das Finanças, não tenho de ter um plano de salvação nacional para lhe apresentar. Exerço o meu direito de cidadão: exprimo o meu descontentamento. Este caso é em tudo semelhante: a direcção tem apresentado demasiados pontos que me provocam descontentamento; os opositores da direcção descontentam-me, de um modo geral, pela sua tendência de bota-abaixo muitas vezes mal educada, poucas vezes construtiva.
É lógico. Não há obrigação nenhuma nem tem de haver. Como é lógico que o pensamento do "queres melhor? faz tu" é absurdo. Mas não foi isso que te disse. Disse-te que eu gostaria de ver a tua opinião sobre a situação actual do Benfica, além bola e pontapés ao poste. Tu podes sempre dizer: "pois, agradeço, mas não tenho nada a dizer". E será certíssimo, também assim.
Há muitos sócios, mas só alguns têm blogues. E neste grupo há quem fale só de bola, quem passe recortes de jornais, quem escreva textos mais literários, quem aborde questão mais políticas. Há de tudo. No meu caso, acho fundamental discutir os assuntos que, no fundo, mais do que a bola jogada, resolvem o futuro do clube. Claro que prefiro escrever sobre o jogo e fazer textos sobre a memória que o futebol me proporciona. Mas sinto esta necessidade de abordar outros temas, desmascarar gente que vende as ideias a troco de não sei bem o quê. É a minha posição e o modo como vivo o clube. E, concedo, nem sempre da forma mais educada que podia. Mas há coisas que não posso admitir a quem trabalha no e para o clube.
E estás no teu direito e até no exercício, de certa forma, de um dever cívico. Não penses que quando escrevi este texto estava a apontar a ti (ou, pelo menos, "sobretudo a ti"). Nas tuas críticas existe mais validade do que em muitas outras que tive a infelicidade de ler.
Quanto ao que penso agora, neste preciso momento, do Benfica: está embaciado. Deixa-me assentar ideias. Deixa-me arrefecer esta frustração. Deixa-me medir as perdas, contar as armas e perceber alguns processos. Sei que não estou contente. Ainda não até que ponto. E também não sei, tintim por tintim, a que se deveram estes resultados que me fizeram descontente. É aí que quero chegar. Logo que conclua, falarei. Até lá, quero descanso. Paz.
Não pensei que estivesses mas claramente estou incluído nos que andam a discutir politiquices. Aproveitei para falar sobre a minha abordagem.
Paz it is. Volta em força.
Eu gosto mais de minis e jaquinzinhos...
Diego,
Obrigado. Vou pagar as quotas em atraso e comprar um RedPass (outra vez) para o ano.
E deixar de ler blogues e não sei quê.
"Prove que não se trata de um robô" - lindo.
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