domingo, 2 de outubro de 2016

Por falar em ódio de estimação

Carrillo merece todos os nossos lamentos. Não sei se isto é unânime mas espero que seja. Há um senhor atrás de mim no sector 6 que o ofende sempre que ele toca na bola, o que é não só condenável no que respeita à conduta imprópria e ao linguajar corriqueiro num sítio nobre como é aquele recanto do estádio, como, feitas as contas, é manifestamente desproporcionado, por defeito, se tivermos em conta a quantidade de desaforos e impropérios com que o peruano merece ser brindado - isto é, caso não fôssemos estóicos nesta convicção de que os jogadores do Benfica não são para ofender. Dou de barato que Carrillo é jogador e do Benfica, atenção.

Vem esta introdução a propósito de alguns comentários críticos e legítimos de que fui alvo quando falei sobre Pizzi. É que houve alguma distorção do que foi escrito por quem escreveu esses comentários. O meu fel para Pizzi não é de ódio, é de amor. É um jogador que terá sempre de provar, a cada jogo, que a versão que leva para o campo é a do Pizzi Bom e não a do Pizzi que dá a bola ao avançado do Vitória de Setúbal mesmo à entrada dos descontos, mesmo à saída do meio campo e que nos podia ter custado um campeonato. Que fique claro que o Pizzi não é o meu ódio de estimação. O Pizzi é o meu amor pobre e torto. Mas, ainda assim, no meu coração, está no sector do amor, não do ódio.

Como afirmei no texto anterior, outros houve que carregaram esse alvo nas costas, no peito e sobretudo nos pés. E fizeram-no sempre sob o meu aplauso contrariado ou o meu nariz torcido e lábio franzido, como quem diz "este gajo, pá". Mas o ódio é outra coisa e não tenho pelos que mo despertam ou despertaram a menor estima.

Podemos começar por Carrillo precisamente, um pequeno mercenário fraco de personalidade. Sempre tive preconceito em relação a gente que cospe no prato de onde comeu. Relembro sempre Carlos Martins, essa fraude outrora careca e sempre de curta duração, que será a epítome definidora do conceito. Aplaudi um golo seu, um único. E só porque foi contra o Porto, instituição que surgia, à época, abaixo do próprio Martins na minha escala da estima. Se fosse hoje, agradecia o golo e nem me dava ao trabalho de o festejar.

De volta a Carrillo. Fico surpreendido de cada vez que o veja equipado à Benfica. Depois da surpresa, sinto algum transtorno. Não é uma sensação que se possa agrupar nas frustrações ou das desilusões. É antes uma constatação que me desagrada imensamente: temo-lo connosco, entre nós, na nossa relva e com as nossas roupas. É disso que não gosto. O Carrilo é uma reedição de Fernando Mendes com menos estupefacientes. O Carrillo não merece sequer o meu protesto. Sinto somente um espanto desagradável, negativo, quase embaraçoso, de cada vez que o vejo com aquela camisola vestida.

8 comentários:

El comilone disse...

Fala de futebol, e não de poesia.

Diego Armés disse...

Amigo, a internet é grande. Tens muita leitura à escolha. Aqui escrevo o que me apetecer escrever.

El comilone disse...

Tens razão. É melhor falares de poesia, que de futebol não é o teu forte. Mas yeah, liberdade, je suis charlie.

Diego Armés disse...

Adeus.

Ricardo disse...

Um tipo que põe o futebol e a poesia como antónimos é um antonho.

Ricardo disse...

Não estou convencido dessa inabilidade peruana. Claro, fez um mau jogo ontem, inequívoco. Há, porém, algo que me agrada: noto-lhe virtude naquilo que parece querer fazer em campo. Falta agora passar à prática.

SLB1958 disse...

Diego, de acordo mas alguma vez temos de acertar e trazer algo de bom do lado do campo grande, há que continuar a tentar.
Depois de ouvir a conferência de imprensa de RV, acredito que também ele está a tentar provar que é possivel conseguir um bom jogador aos lags, só espero que ele tenha razão e que será uma questão de tempo.
Quanto ao Pizi, eu percebi que não é ódio de estimação, eu por vezes também fico com sabor agridoce, mas continuo a achar que é um óptimo jogador.

Carrega Benfica!

Diego Armés disse...

Tenho a certeza que haverá bons jogadores e úteis e gente séria a vir de Alvalade. O que eu detesto é a necessidade de falar do antigo clube ou de manterem um conflito. São tipos com má conduta. O João Pinto saiu do Benfica e foi para o Sporting e nunca me senti melindrado por ele, foi sempre um gajo exemplar. Eu só podia o mesmo quando o movimento é o inverso.

Já sobre a qualidade do Carrillo, lamento mas não acredito nela. E tenho visto muita gente a cascar no Salvio este ano, por exemplo. O Salvio, que é dos jogadores mais produtivos que nós temos, vejam bem. Um gajo que soma assistências e golos, para além de lances sempre com um objectivo claro e uma disponibilidade admirável para ajudar a equipa. E enerva-me ver que com o Salvio somos intolerantes, não pode falhar; com o Carrillo, de quem não me lembro de alguma vez ter sido sério, aceitamos tudo, damos tempo, ainda acreditamos que venha a ser isto e aquilo. Um gajo que não mete um pé a uma bola dividida, não ganha um lance no corpo-a-corpo, não se antecipa a um defesa desde 2002, não ganha um sprint e só está no sítio certo em dois momentos do jogo (aos minutos 0:01 e 45:01). Não posso concordar convosco nessa atitude benevolente.