Quando aquele homem grande, moreno, barbudo e desengonçado, aquele santo grego chamado Konstantinos, marcou aquele golo, domingo que passou, a minha euforia nos festejos não foi dedicada apenas a ele e ao seu “momentum maradonum”.
O meu grito foi de todos vocês, meus toscos. De vocês, meus patinhos feios que me enchem o coração há décadas com pontapés todos tortos, biqueiradas do outro mundo, cabeçadas à bruta e uma inspiração que ninguém compreende e que o próprio Gabriel Alves seria incapaz de justificar com a sua observação simples “é um jogador com um baixo centro gravitacional”.
Mitroglou, o grego, fez passar aquela bola milagrosa por entre uma floresta de pernas e, por cada perna ultrapassada como um pinheiro derrubado, os nomes dos toscos passaram-me à frente dos olhos, a bola batia nas redes de Marafona e em todas as redes de todos os tempos, sempre aos trambolhões, empurrada pelos pés de Mitroglou e pelos pés Magnusson, pelos pés de Cardozo, pelos pés até de Brian Deane.
Gostava de conseguir encontrar uma maneira de descrever o que sinto por estes homens grandes, bravos e sem jeito para jogar à bola, sobretudo nas horas em que me dão alegrias – o que, olhando para os nomes ali em cima, aconteceu centenas de vezes, várias centenas de vezes. Mas não tenho.
O que eu sinto por eles é praticamente inveja. Porque é preciso ser-se muito bom para, não tendo um talento reconhecível à vista desarmada, a olho nu, se ser tão bom. E assim eles, estes Mitroglous, estes sem-jeito-nenhum, garantiram o seu lugar na história, pelo menos na história que eu hei de contar aos meus filhos e aos meus netos, quando os tiver, uns de cada vez e por ordem, primeiro os filhos depois os netos.
E os toscos conquistaram esse lugar, esse estatuto e este amor que não é bonito nem tem jeito mas que eu sinto por eles, um amor tecido a compaixões condescendentes de cada vez que deixam escapar a bola, de cada vez que a tentam dominar e ela fica três metros lá mais à frente, de cada vez que tentam uma finta que não sai porque não sabem como se faz – e de todas as vezes eu exclamo, com sorriso paternalista, “para a próxima ele consegue”.
Porque isto é gente que não desiste. Eles até podem nem correr muito e fintar só três vezes por ano. Mas estão lá e aguentam e acabam por fazer com que todos acreditem neles, os treinadores, os adeptos, os companheiros de equipa e até os adversários.
E eles, que são toscos e são feios e não têm jeitinho nenhum para nada, marcam aos trinta e aos quarenta golos num ano, enchem-me de alegria e fazem tremer os rivais quando o seu nome é anunciado ao mesmo tempo que o povo delira nas bancadas, “com o número sete… Óscar Cardozo! Bruaaaaaaa”, “com o número 11… Magnusson! Bruaaaaaaa”, ” com outro número 11… Mitroglou! Bruaaaaaaa”.
Vivam os toscos! Viva Mitroglou!
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