sábado, 20 de outubro de 2012
Luto laboral
Ontem era dia de greve e manifestação, o dress code era o preto, pelo luto. Concentrámo-nos frente à porta da redacção, manifestando desgosto pelo futuro desemprego de cada um dos já designados, como eu, mas tentando demonstrar de igual modo uma tremenda tristeza, uma mágoa impotente, por ver afundar algo que nos é ainda tão querido e tão pessoal: aquele jornal. Levei calças pretas, uma parka que eu acho que é preta e que a Lady Verde afirma ser azul muito escuro, botas castanho-escuro, de pele, que comprei por uma pechincha no mercado de Porto Bello (25 libras, acho eu), uma camisa de quadradinhos minúsculos, pretos e brancos, que, ao longe, dá ideia de ser cinzento também ele moderadamente escuro e óculos escuros, que ora punha, ora tirava, dependo das nuvens carregadas, que às vezes passavam sobre nós, outras nem por isso. Estava, portanto, de luto. A t-shirt que levava por dentro era definitivamente preta, embora tenha permanecido omissa até ao fim dos trabalhos de manifestar, já que não se concretizou a ideia de alguns que consistia em ir tirando roupa até que alguém nos desse razão. As meias eram cinzentas. Não muito escuras, porém suficientemente enlutadas. As cuecas eram, claro, as do Benfica, que ganhara no dia anterior, e por quatro a zero, para a Taça de Portugal, isto apesar de eu ter aparado a barba seis dias antes, fazendo estremecer as fundações de um compromisso que me obriga a levar um respeitabilíssimo bigode ao Jamor no próximo mês de Maio. O vermelho nunca poderá ser luto e eu nunca poderei estar perfeitamente enlutado no dia que se segue a uma vitória do Benfica.
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