Há três semanas e dois dias não me vesti: escrevi a carta de demissão, terminei o que me faltava fazer e deixei-me ficar por casa, como um vagabundo que tem a sorte de ter tecto, a desfrutar do prazer de agir de acordo com aquilo em que acredito. Há três semanas e três dias - e em muitos outros dias antes desse -, eu vestia camisas e calças, aparava a barba e o cabelo, mantinha-me, como se diz, "apresentável". Hoje sairei de casa com o cabelo desgrenhado e por aparar e ainda com a barba que o Benfica que me deu e que eu corrigi uma boa dúzia de vezes - mas que mantenho intocada há três semanas e dois dias, pelo menos.
Passo os olhos pela Imprensa enquanto faço tempo para ir para a Luz, Lisboa ardeu há 25 anos e eu vi na televisão. Hoje é um dia solene, de memórias fortes, de incêndios passados, de fogos por apagar e de incendiários à solta - um grupo de sócios marcou uma manifestação para as três da tarde nas imediações do Estádio. A escassa hora e picos do pontapé de saída. Não se faz. Partilhando das suas dores, preocupações e boa parte das exigências, não estou com eles. Primeiro está o Benfica e hoje joga o Benfica.
Lisboa já ardeu o quanto baste, mais que uma vez. Vou tomar um banho longo e cuidado que o dia é solene.
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