Desde domingo, tive sonhos febris e agitados, daqueles elípticos, em que eu fazia substituições, umas atrás das outras, mas tirava sempre o Rodrigo, sempre o Rodrigo, sempre o Rodrigo e metia o Lima e o Lima, de repente, já era o Rodrigo. Depois, a equipa subia escadas para ir levantar taças, mas chegava lá acima e estava escuro e o Jesus caía de joelhos, primeiro, e pelas escadas abaixo, depois. E então eu substituía o Rodrigo e lá aparecia o Rodrigo a falhar golos e a equipa a subir escadas e o Jesus a cair de joelhos e a cair das escadas. Uivos na escuridão e o Cardozo, muito raivoso, a gesticular, a tirar o Rodrigo pelos colarinhos e depois, ele próprio, o Cardozo, a transformar-se no Rodrigo. O Jesus caía de joelhos e vinha o Carlos Martins e apanhava-o e eu tirava o Martins e depois a equipa subia as escadas e eles eram todos o Carlos Martins e caíam todos de joelhos, todos pelas escadas abaixo.
Tive febre, transpirei, acordei gelado, às três, às quatro, às cinco da manhã, acordei cansado, acordei por dormir. Tentava adormecer e só via o Artur estendido sobre a relva a esticar os braços, a esticar as mãos, a esticar as luvas, a esticar os postes, e aquela bola, sempre aquela bola, a bater no fundo das redes. Chutavam um de cada vez: o Ricardo, o Kelvin, o Ivanovic, o Jefferson, o Soudani, o Ricardo, o Kelvin, o Ivanovic, o Jefferson, o Soudani, o Ricardo, o Kelvin, o Ivanovic, o Jefferson, o Soudani. Sem parar. E o Artur a esticar-se e o poste a esticar-se e a deixar o Artur indefeso, uma e outra vez, uma e outra vez.
Até que na noite de terça-feira, enquanto o Horatio «it looks like someone was... on fire» deduzia coisas brilhantes de um cenário ensanguentado, eu adormeci sem dar por nada, sem querer, sem ter vontade, vencido pelo cansaço. Acordei de madrugada, a televisão já estava desligada, ainda não havia sol lá fora e tudo estava em silêncio. Tenho dormido melhor, mais descansado. O Jesus, pelo menos, já não cai escadas abaixo e o Carlos Martins desapareceu.
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