quinta-feira, 16 de maio de 2013

«Era queimá-los como Távoras»

Gostamos de culpados. Adoramos culpados. Não sei se se trata de uma herança judaica ou católica, mas é, pelo menos, algo muito à moda do Velho Testamento: para tudo temos pecados e pecadores. E temos para eles as punições devidas e os castigos merecidos. E, meus amigos, como nós gostamos de castigar, depois de apontar os culpados. E gostamos deveras de observar os culpados a sofrer com os castigos, lava-nos o espírito. Durante séculos, purgámos a alma das comunidades pendurando pecadores em pelourinhos. E foi assim que chegámos onde chegámos, identificando e castigando os pecadores. É assim que nos vamos salvando, geração após geração.

No fim do jogo com o Porto, o meu pai, que por acaso nem é católico, ligou-me para identificar meia-dúzia de culpados. Recusei a discussão, estava mais virado para o sofrimento profundo do que para o debate «aponta aí um pecador que eu trago o chicote a jeito». Ontem foi a minha mãe, que eu nunca percebi muito bem se é mesmo católica, a mandar-me uma mensagem terrivelmente consternada, apontando, sem hesitações, a culpa de Artur, que não defendeu aquela bola infernal. Hoje, foi uma amiga, que eu não creio que seja católica, que decidiu eleger Jorge Jesus como alvo, porque «não dá mais que isto». Olhando de perto, percebe-se que não precisas de ser muito católico para fazeres uma Inquisição.

Ingenuamente, não encontro culpados do nosso drama. Aliás, na verdade nem os procuro. Culpei o Martins, depois do jogo com o Estoril - mas culpei-o apenas por existir, porque nunca gostei dele, nunca gostei da ideia de ele vestir a Digníssima, nunca o quis entre os nossos; ou seja, não lhe imputei as culpas da desgraça que se vai abatendo sobre nós.

Mas hoje, onde alguns vêem trevas, eu vislumbro o que parece ser o início de uma nova era gloriosa. Por isso vos peço: tentem não encontrar pecadores nem culpados, não façam fogueiras purificadoras, arrumem os chicotes, afastem-se dos pelourinhos. Quando ontem os vi chorar, os nossos rapazes, desolados, todos me pareceram galileus convictos, sabendo, na hora da derrota cruel, que eppur si muove. Ter perdido não significa que esteja tudo errado. Pode significar que estamos no caminho certo, na direcção certa, e que simplesmente ainda não somos perfeitos, ainda não chegámos lá. As coisas às vezes levam o seu tempo.

3 comentários:

Mg disse...

Muitos há que perderam tudo em pouco tempo e hoje, 2, 3 ou 4 anos depois, regressam vitoriosos em quase todas as frentes.
Haja calma. Haja fé.
Benfica!

Unknown disse...

Muito bom texto.

Concordo 100% com cada palavra.

António Maia disse...

Bom post, concordo a 100%? Estamos no bom caminho, e os adversários temem isso. É um ato de coragem de gestão o final do contrato com o Oliveira corrupto, é o caminho correto a continuidade do treinador que é o melhor português e um dos melhores do mundo, a equipa joga um futebol que a todos maravilha, ainda me lembro de um campeonato ganho pelo Tony em que o Benfica jogava mal e os benfiquistas não gostavam, como aconteceu com Trapatoni ou com Mortimore etc. Nós queremos mais do que ganhar, queremos mandar na Catedral, queremos jogar ao ataque, queremos dominar, somos Benfica! As modalidades têm equipas para ganhar em todas as frentes, as formações estão no caminho certo, lutam pela vitória e em breve hão-de dar frutos com calma poque entrar na nossa equipa principal não é fácil porque é forte. Venha lá o museu Cosme Damião que muitos diziam impossível há pouco tempo atrás. Ainda quero referir que bastava que Soares Dias tivesse validado o golo limpo que nos roubou no jogo com o braguinha e a questão do título seria diferente. Portanto o caminho é este e temos de agradecer á direção que tem rumo, portanto cabeça fria e racionalidade, só temos motivos para continuar orgulhosos no clube, os outros adoravam estar na nossa posição, daí as manifestações adversas, acham que são meia dúzia de lagartos ou andrades que nos podem afetar? Inveja, inveja que nos odeiam Ahaha quando os inimigos nos atacam é sinal que estamos no caminho certo, caso contrário nem nos ligavam, como fazemos aos lagartos e o resto é conversa da treta manipulada pelos mesmos de sempre, na comunicação social vendida e controlada. Obrigado Benfica!