quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Degraus inglórios

Estava a apanhar a roupa, antes de almoço, do estendal das traseiras, quando ouvi um ruído. Olhei para baixo e vi a tartaruga da minha vizinha de baixo a sair do seu caixote com água. É um caixote muito pequenino e o bicho, apesar de pré-histórico, há-de ter sentido o apelo da liberdade, do mundo lá fora. Decidiu partir à descoberta do universo, naturalmente. Por azar, o terraço onde se encontra é também ele pequenino e tem muros altos.

Apercebendo-se da dimensão reduzida do seu cosmos, a tartaruga tentou trepar os três degraus que aí existem e que levam apenas a mais uma parede intransponível. Apreciei a perseverança do animal, que conseguiu subir o primeiro degrau, sem ter noção do quão inglório era o seu esforço. A meio do segundo, no entanto, caiu e ficou de carapaça para baixo, naquela posição que inspira, ao mesmo tempo, riso e compaixão.

Suspendi a apanha da roupa quando ia começar a recolher e dobrar as t-shirts. Senti alguma aflição pela situação complicada do pequeno animal. E dei por mim, num reflexo inusitado, a fazer analogias estapafúrdias. Pensei no meu Redpass, reluzente e ainda por estrear, que faz de mim efémero proprietário de um lugar escolhido com cuidados e sentido estratégico, na curva mais bonita do Estádio.

Imaginei-me naquele anfiteatro gigantesco mas opressivo ao ponto de parecer do tamanho do terraço da minha vizinha, eu a tentar subir degraus para não chegar a lado algum ou para ver uma equipa que nem história fez, de pernas para o ar, a fazer-me pena.

A tartaruga entretanto conseguiu dar a volta sozinha. Balançou-se e caiu de pé. Eu aplaudi e cantei «tenham cuidado, ela é perigosa...» e depois, embaraçado, apanhei as t-shirts que restavam e as toalhas de praia.

2 comentários:

Ricardo disse...

Como eu queria ver essa outra tartaruga já a marcar golos este fim de semana...

Rusty Ryan disse...

GOLD!

Clap, clap, clap.