Fazia o meu caminho com vagar e sem expectativas, estava um tempo manso e apetecia-me o tédio. De umas espreguiçadeiras ali ao lado levanta-se um homem, muito moreno, levava papéis para pôr no lixo, talvez fossem de gelados. Reconheci-lhe a passada, o gesto, a silhueta. Finalmente, olhei o seu rosto. Aquele mesmo rosto que chorou de alegria ao bater o penalty campeão do Mundo na baliza Sul, diante de mais de 120 mil, aqueles traços que choraram de amargura pela traição de marcar à sua Equipa.
Olhou-me de volta e eu senti uma imensidão de respeito. Tentei manter a compostura, esconder o olhar atrás das lentes escuras. Ele voltou a olhar, atento, perscrutador. E eu senti que ele me reconheceu. Não a mim, Diego; a mim, um Benfiquista. Olhou para mim e viu-me; e por uns momentos fomos grandes cúmplices silenciosos e desconhecidos. E tenho a certeza que se lhe tivesse dito «então Rui, ‘tás bom?» ele teria respondido calmamente «tudo bem. E contigo, Benfiquista?». Tenho mesmo a certeza.
3 comentários:
Claro que te reconheceria. Devias estar com um brilhozinho nos olhos pouco suspeito. E não estou a falar desse tabaco. :P
Abraço
Como te compreendo. Se visse o Rui, a minha reacção automática seria a abertura do sorriso, seguida da palmada no meu peito, na zona do coração que bateu pelos seus golos e assistências.
Diego, resta-me dizer-te que, como sempre, foi um prazer "ler-te"!
Enviar um comentário