Lima, esse avançado móvel, inteligente, forte e generoso, com instinto goleador e pontapé potente, que bateu, sem dúvidas nem piedades, números de craques da linha atacante por quem se chorou baba e ranho aquando da despedida: estrelas internacionais que dispensam apresentações, como Miccoli ou Saviola (os meus queridos Fabrízio e Xavier Pedro, atenção). Lima, esse de quem duvidei, com o meu sobejamente conhecido talento para a prospecção de talentos (o mesmo talento que me permitiu depositar fé em Emerson ou ter esperança nas mãos de Roberto, de resto), que merecesse um milhão que fosse dos mais de quatro que pagámos àquele clube que anda há uns anos em bicos de pés, a fazer de Boavista.
Dizem-me então que o Lima, especialista em meter antecessores no chinelo, para não falar nos tiros de meia-distância que executa com raro preceito, é um tipo digno de apreço porque, em Braga, depois de ter marcado um golo quando nem eu nem o Beto esperávamos que aquele lance desse meio pontapé de canto, sequer, não festejou o tento. Por respeito ao Braga. Eu, se me permitem, discordo absolutamente desta moda da correcçãozinha de armar ao diplomata.
Eu, que estou no Estádio sempre que posso e que festejo tudo quanto é golo nosso e que pago as quotas todos os meses - dois meses em Dezembro - e os bilhetes sempre que me é necessário, eu!, o mínimo que espero de um jogador do Benfica é que festeje comigo os golos que ele marcar. Porque é o Benfica quem lhe paga e são os Benfiquistas que puxam por ele, gritam o seu nome, o aplaudem e acarinham, semana após semana, às vezes duas vezes por semana. Vão-se lixar com essa teoria polida e repleta de correcção e bons modos: se o Lima marca ao Braga ou a quem quer que seja, o que eu espero dele é que erga os braços com alegria e satisfação, não que peça desculpa ao adversário a quem pagámos, e bem, o preço que nos pediu para que possamos usufruir dos seus serviços em campo.
Podem alegar que o coração nestas coisas também conta. Certo, temos acordo aqui. Eu próprio não festejaria, nunca!, um golo contra o meu Benfica. Decerto sucederá o mesmo com cada pessoa em relação ao seu clube. E com o Lima, pela amostra, sucederá sempre que marcar ao Vizela, ao Mixto, ao Paysandu, ao Iraty, ao Malucelli, ao Paraná, à Juventus de São Paulo, ao Santos, ao Avaí e ao Belenenses, tudo clubes que, como o Braga, certamente terão ficado no seu coração da mesma maneira e pelas mesmas razões que o Braga ficou: porque o empregaram. Pela minha parte, dispensava um coração tão grande e pronto a amar: bastava-me que tivesse festejado o golo condignamente - sem provocações, sem um "toma, caralho" ou algo do género -, apenas um festejo alegre, digno e merecido: "GOOOOLOOOO!», com os braços erguidos.
4 comentários:
Acho que a tua pagina ficava melhor como estava,sem essa imagem de fundo
Tu queres é festa. A mocidade é assim. Agora só querem é rock, depois dá nisto. No meu tempo olhava-se para o futebol como um juri olha para uma prova de patinagem artística! Com circunspeção, atenção e sem qualquer arroubo expansivo. Batiam-se três palminhas nos golos e sussurava-se, no máximo, um salazarento "É bem." quando algum golo merecia elevada nota artística. Não interessava se era um febril derby entre o Lobão e o Torre de Dona Chama ou um mais pacato Alcaravela contra Usseira. Havia rigor analítico e toda a gente se portava nas bancadas como se tivesse acabado de ler o 'Mitologias' do Roland Barthes. Que a mim, quem me tira os clássicos... Agora? Desde que se ouve UHF nos estádios em vez da Tonicha, o futebol passou a qualquer coisa Baudrillardiana, uma espécie de último refúgio da nossa resistência à liberdade, em que gestos como levantar os braços com axilas tranpiradas, que seriam violentamente criticados no metro ou em autocarros, são agora exigidos a indivíduos que devem ser símbolo de um símbolo. Continuem. Avenham-se para aí com essas coisas de quem só quer é rock.
Como diria o próprio Lima, fosse qual fosse a questão, no início da sua resposta, "não". E quando digo "não" não é que esteja a renunciar ao rock, que eu, apesar de não ir para novo, ainda sou do tempo do rock. Digo "não" a essa história das axilas nos transportes públicos: uma das vantagens do desemprego é possibilidade de recorrer a essas, metaforizando, camionetas de carregar galinhas com alguma parcimónia. Agora ando muito mais a pé ou, em dias felizes, não ando, de todo - mantenho-me em casa que é onde pertenço, como bom desempregado. Pelo que o levantamento do braço e a exibição da axila passaram a ter, para mim, um encanto que nunca antes tiveram. E quanto a esse Barthez só tenho a dizer era um guarda-redes muito medíocre.
quem é que disse mal do fundo da página?!
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