segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Quatro bolinhas de sabão

Lembro-me daquela mão do Abel Xavier, imediatamente escondida debaixo do corpo estendido sobre a relva. Xavier não queria levantar-se, ninguém queria acreditar. Lembro-me de uma nação inteira incrédula, em negação: aquilo não era penalty. Nunca na vida! Mas qual penalty, senhores, qual penalty?! Estava tudo feito: Portugal era para queimar, a França estava a ser levada ao colo. Henrys, Zidanes, Djorkaeffs, Deschamps's, Thurams, Desaillys, isso o que é? Não fossem os cordelinhos que o Platini anda a puxar e aquele golo do Nuno Gomes teria sido suficiente para nos levar aos penalties, essa é que é essa.

Na época, ainda se jogava o prolongamento em modo morte súbita: a bola entrou e o jogo acabou ali. A geração de ouro ficava ali, à beirinha da glória, derrotada pela mão do Abel Xavier, que nunca foi mão, e pelo pé esquerdo de Zidane, que nunca hesitou na hora da verdade. Portugal perdia a cabeça e ressuscitava uma besta negra vestida de azul.

Lembro-me de, no dia seguinte, alguns portugueses ganharem alguma clarividência: havia uns quantos que admitiam, ainda que a custo, a possibilidade de, sim senhoras, a bola ter tocado, vá lá, na mão do Abel Xavier. Os dias foram passando e depois os meses e depois os anos até que, hoje, não serão muitos os portugueses a afirmar sem vergonha que aquilo não foi penalty.

Este tipo de cegueira colectiva que leva à formação de uma convicção errada e inabalável tem a sua explicação: às vezes, não queremos acreditar no que é claro. Custa-nos. Por mais indesmentível que seja uma realidade, a frustração tolda-nos o raciocínio e impede-nos de aceitar o facto. Estas situações podem verificar-se em diversas circunstâncias - tanto pode suceder numa meia-final do Campeonato da Europa como num simples jogo do campeonato em que dois pontos de avanço já cá cantam e depois puff, rebentam no ar. A probabilidade de acontecer aumenta se o puff se repetir em duas jornadas consecutivas.

Para que as pessoas se animem, deixo aqui uma pequena homenagem aos quatro pontos que o Benfica perdeu podia ter perdido para o líder do campeonato. A música cura tudo.

1 comentário:

rui disse...

Pronto,mas em 2006 no mundial tambem fomos eliminados pela frança,com 1 penalty convertido pelo zidane,que nao era penalty nenhum,Tava so a dizer