quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Haja tremoços e cerveja

Alguns amigos Benfiquistas têm tido algumas ideias alternativas. Já li e ouvi dizer que esperam que «o Sporting consiga ganhar ao Porto» para que o Benfica assuma a liderança. Eu acho engraçada a própria ideia de o Sporting «conseguir ganhar», logo à partida, e qualquer amigo sportinguista compreenderá porquê.

Passando por cima do aspecto humorístico que essa possibilidade encerra, pessoalmente, e no meu modo muito Benfiquista de ser, tenho pudor relativamente à ideia de o Benfica poder ser ajudado pelo Sporting na luta pelo campeonato. Se for para acontecer tal coisa, espero que suceda de um modo esmagador, digamos com uma goleada devastadora, por 2 a 0 ou mais, de tal modo desmoralizadora para os portistas que o plantel e a própria estrutura do clube se sintam humilhados e sem forças, a ponto de toda a época estar perdida - permitindo, inclusivamente, ao Sporting ter esperanças matemáticas renovadas, jornada após jornada, de chegar ao segundo lugar (e falhando o mesmo Sporting na derradeira ronda, consumando a tradicional peseirada).

Os campeonatos perdem-se e ganham-se em qualquer campo e em todos os campos ao longo de 30 jogos. Existem, porém, dois jogos por ano em que me recuso a tomar partido, abdicando facilmente de eventuais dividendos que o Benfica possa vir a tirar do desfecho desses desafios. Quando Porto e Sporting se juntam no mesmo relvado, tudo o que espero é um enxurrada de erros de arbitragem, muitos cartões vermelhos, alguma pancadaria e, se não for pedir muito, lesões prolongadas para o João Moutinho, para o James Rodríguez, para o Jackson Martínez, para o Mangala e para o Alex Sandro. Tudo o resto, como o resultado do jogo, por exemplo, não passa de danos colaterais.

4 comentários:

ZeduViana disse...

Estou um bocado desiludido. Apesar de reconhecer a pertinência deste post, não compreendo como é que em dia de Benfica contra semi-rival para a meia final do quarto objectivo da temporada tu me estás a falar do Sporting-Porto. Quem se dedica mais a falar do outro lado da barricada é normalmente o pessoal do outro lado da barricada, os antis, para não haver más interpretações. Contava com outras temáticas mais espirituais e não tão mundanas

Vareta disse...

O meu amigo sabe bem que, a mim, quem me tira os clássicos... e não falo de 'clássicos' no sentido de ser o Sporting-Porto um 'clássico'. Não vejo como um jogo com o Porto possa alguma vez ser um clássico; seria uma coisa tão incongruente como ver um dono de um banco falar na nobreza do trabalho. Apenas venho chamar a atenção do meu amigo para o magnífico fenómeno cultural em que o Sporting se está a tornar. Eis-nos, finalmente, chegados à esfera mais lídima do futebol enquanto cultura, personificado no Sporting, no meu Sporting desta época: a primeira equipa de futebol pós-punk de que há memória. O meu amigo repare: a premissa 'no future' está mais que assumida, digerida e ultrapassada. Se o Johnny Rotten cuspia no público, os jogadoes do meu Sporting (e)levam a confrontação a outros níveis, menos físicos mas mais contundentes. Como na música dos anos 80, à banalidade do 'no future', o Sporting responde com uma tortuosa, angustiante e artisticamente fascinante cartografia da insipidez do presente. O Sporting deste ano é o Al Berto do futebol, uma equipa que entra em campo declamando em silêncio versos como "Sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade". Mais: o caos administrativo é também todo ele pós-punk, entre uns arroubos de 'independência' e 'do it yourself' que traem uma vontade de ser como as 'majors'. Com alguma sorte, ainda passaremos pelas fases da auto-gestão e da cooperativa. A minha esperança é a de que a elevaçao cultural vá chegando ainda mais longe neste abençoado Sporting desta época - gostaria de ver um programa de artistas em residência no nosso onze, transformando o futebol em palco e pólo de refexão. Se já mostrámos que conseguimos ser nihilistas como os piores, será agora tempo para um renovado sincretismo. O jogo com o Porto poderá e deverá ser o nosso "Remain in Light", um ovni fabuloso sem origem nem destino, intemporal enquanto intervenção cultural independentemente dos resultados. Quero, portanto, o Brian Eno como treinador e uma táctica definida através das suas 'oblique strategies'. Ou seja, tal como o meu amigo, quero algo esmagador - seja o que for.

Abraços.

Tiago disse...

É isso tudo e mais: mesmo que fosse na última jornada do campeonato e a vitória dos verdes era a nossa g´lória, jamais torceria por esses seres!

Vareta disse...

Caro Tiago,

Belíssimo sinal: a expressão "esses seres" é já um sintoma da importante rotura ontológica e do questionar metafísico que o Sporting tem postulado este ano. Não torça; não é preciso. Se já rompemos a ontologia, se o Tiago se põe a torcer ainda rompemos os ligamentos e acabamos como o Nietzsche.