terça-feira, 16 de agosto de 2011

Algumas notas que tirei ao Sol e outras que, mentalmente, apontei mesmo dentro de água

Eu não estou amuado. Eu estive mesmo de férias.
Dantes, quando estava de férias, não lia jornais, não via telejornais e não comia carne de porco. Mas entretanto modernizei-me e sou, de um modo sofisticado, portador de um aparelho vagamente aparentado ao telefone. Uma chulice geek com acesso à Internet que, basicamente, me permite tirar fotografias para o facebook e ler A Bola online. Adiante, o que importa reter daqui é que, apesar de calado, eu andei atento, com a leitura em dia. E, sobre estes assuntos que A Bola ia noticiando, tenho coisas que pensei e que agora me apetece dizer. E nestas férias comi entremeada – mas só uma vez.
Para além d’A Bola, fui sendo actualizado, sempre que jogava O Grande, através da telefonia. O velho relato da Antena 1 continua a empolgar-me incomparavelmente mais do que o António Tadeia e os outros todos. O relato com o Arsenal foi muito bonito. Antes disso, vi com o Trázon Spor, na Luz e na Turquia (na Turquia pela televisão, entenda-se). Também gostei muito.

Mas…
Na sexta-feira, a caminho de Lisboa, ouvi o relato de Barcelos. E não queria acreditar. Portanto, ora… o Jorge Jesus. Eu não sei como hei-de pôr isto. Eu não sou anti-JJ, que fique bem claro. Surpreendeu-me que o Benfica o tivesse contratado (nunca, antes disso, achei que tivesse nível para um grande) mas não pus em causa a sua qualidade e, na primeira época, obteve bons resultados no campeonato (Óroliga e Taça de Portugal foram para esquecer). Na época passada, falhou nos momentos-chave. Mas, ainda assim, a equipa produziu bom futebol e quando falhou foi sobretudo contra uma das melhores equipas que vi jogar nos últimos anos – reconheça-se-lhes o mérito: o Porto do ano passado era de colheita histórica.
No entanto, em ambas as épocas ficou a sensação que Jesus não era capaz de fazer melhor, que atingira o seu limite. É um treinador com um grande poder de motivação, é trabalhador, é aguerrido e possui um enorme gosto pelo ataque e por fazer golos. Mas faltam-lhe características importantes para o topo da alta competição, como o são as competições europeias ou os jogos com o Porto. Tentei, por isso, identificar os maiores problemas de JJ. De entre os vários que o caracterizam, há um que claramente prejudica a equipa – e que o faz espalhar-se recorrentemente ao comprido. Talvez por sentir que tem algo a provar, que tem de fazer qualquer coisa que deixe a sua marca na história do futebol, Jesus tem tendência para inventar como se inovasse, para tentar surpreender como se isso o distinguisse enquanto génio inventivo. Porém, engana-se. Diz-nos a história que as grandes equipas se construíram sedimentando-se, ganhando consistência. Mas Jesus não liga a isso da história, Jesus é um homem de rasgo, de inspiração. O trabalho, o esquema, as rotinas, tudo isso são coisas de meninos quando comparados com a luz que Jorge Jesus recebe no seu espírito antes de cada jogo. Normalmente, cinco ou dez minutos antes do apito inicial, para ser mais preciso.

Desta pré-época Benfiquista há várias coisas a reter. Julgo que existe unanimidade quanto à qualidade de Nolito, de Garay ou de Artur. Foram boas aquisições, acrescentaram algo à equipa. Existem algumas dúvidas quanto a outros. As opiniões dividem-se em vários casos. Vou deixar aqui as minhas. Gostei muito de Matic, penso que tem qualidade e que pode vir a ser muito útil. Em certos casos, pode mesmo substituir Javi Garcia. Há ali qualquer coisa Jonas Thern. Também gosto muito do Emerson. Tem recebido muitas críticas, é claramente o elo mais fraco dos que chegaram para agarrar o lugar: poucos o conhecem e o único crédito que tem é ter sido o titular da equipa campeã de França o ano passado (e na sua sombra tem um Capdevilla, jogador de topo, campeão da Europa e do mundo ao serviço – sempre a titular – de uma das melhores selecções da história). Mas eu gosto de Emerson. Defende bem, é abnegado, sabe estar em campo, é forte, tem técnica q.b. e razoável qualidade de passe. Não é o cometa Coentrão (que, by the way, jamais será lateral-esquerdo no Real Madrid, nas mãos de Mourinho…), mas é um defesa seguro que se entende bem com o miolo e que sobe sempre pela certa. A ver, com calma.
Mas, de entre tudo, fiquei deslumbrado – é mesmo o termo – com o potencial da dupla Witsel – Aimar no meio-campo. Pablito, que é mestre desde que nasceu, duplica a qualidade do seu jogo ao lado deste belga cheio de classe que, acredito piamente, longe do nosso Pablo, não jogará mais do que metade do que joga quando está a seu lado. Juntá-los é aumentá-los, é fazê-los grandes, ainda maiores do que são. Esta dupla fascina-me. Para já, fascina-me na medida em que nenhum comentador desportivo consegue identificar o papel de cada um deles quando estão em campo em simultâneo. Aparentemente, os simuladores de Football Manager não conseguem decifrar o 4-3-3 com dois interiores que se vão revezando na condução do jogo e que sobem apoiando-se mutuamente. Para quem ainda não reparou: Nolito, Gaitán e Saviola são avançados. Mesmo. Daqueles à séria, que ficam lá à frente e só servem para atacar e fazer golos. Aimar e Witsel apoiam Javi nas tarefas mais defensivas, fechando, cada um, o corredor da sua proximidade (pelo pouco que observei, a norma é: Aimar apoia Emerson; Witsel apoia Maxi; mas julgo que também varia). Bom, mas isto são peanuts. O que importa reter daqui é: como é possível que Jesus ainda não tenha reparado que esta dupla é a jóia da sua coroa? Distracção? Ou quando chegou a Barcelos o deus que o ilumina voltou a dizer-lhe “ó Jorge, tu tens é de inventar, pá: tira o Witsel e mete o Jara, joga em 4-4-2, que assim os comentadores da TVI conseguem perceber a táctica”? Não se pode culpar JJ pela mania que Laionel tem de nos estragar as primeiras jornadas com golos do meio da rua. Mas, caramba, porquê esta mania de Jejus de fazer as coisas pelos atalhos, de dificultar o que é fácil, de complicar o que é simples e claro? Eu não quero ser surpreendido, Jorge. Eu quero entrar em campo com a melhor equipa que temos, com todos no lugar certo. Apenas isso.

Logo, ao fim da tarde, espero ver um Benfica de classe. Com a jóia da coroa em campo. O adversário é um bom tira-teimas: não é fraco, mas não é nenhum tubarão. Fico desapontado se não ganharmos.

PS – O Enzo Pérez é uma espécie de dark side do Quaresma.

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