quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Duas coisas que fazem pouco sentido...

... ou nenhum, mesmo. Mas não vou elaborar, estou em modo quase telegráfico, não há tempo para tudo. De qualquer modo, o sentido que as coisas fazem é sempre questionável. O título devia ser outro. Qualquer coisa como "alguém quer ter a amabilidade de me explicar por que é que isto é assim?". Mas pronto, agora está escrito, está escrito.

Primeiro, vamos à imprensa. Carlos Machado escreve uma boa crónica n' O Jogo a propósito do estatuto de Ferguson. Machado fala da imunidade de Ferguson, enquanto "Ferguson", aos maus resultados e explica por que motivos e de que maneiras o treinador se transformou naquilo que é: um monstro inderrubável em Inglaterra, alguém inquestionável no Manchester United (mesmo depois de perder 6 a 1 em casa com o Sporting local) e uma personalidade temível no próprio balneário. Compara-se ainda Ferguson a Mourinho e chama-se-lhe o "penúltimo dos imortais" (sendo Mourinho o último, porque é mais novo). O texto é tão cheio de correcção e tão certeiro que é uma pena que me mereça reparo. Porém, Carlos Machado diz que "Ferguson é o modelo zero dos especiais". Permita-me que o corrija: eu acabei de ler o Damned United. Não tendo maneira de provar que há modelo anterior, atrevo-me a dizer que o modelo zero do "especial" é Brain Brian Clough.

Segundo, vamos excepcionalmente aos nossos queridos adversários, cuja agitação e euforia, num caso, e a depressão e o cepticismo, no outro, me surpreendem. Portanto, uma equipa é primeira do campeonato, ganha 5 a 0 em casa, tem tudo para passar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões - é questionada nos jornais, fala-se em "crise", um dos avançados auto-flagela-se com uma pintura de cabelo absolutamente ridícula e dão um Dragão de Ouro ao Brutus lá da casa. Uma outra equipa, da qual não vou dizer o nome - não podendo ser o Atlético de Lssboa, que esse já existe, pode ser o Lisbon City, vá -, ganha dez jogos (é um belo registo, não haja dúvida), classifica-se para os 16 avos-de-final da Liga Europa (não é mais que a obrigação, digo eu), ganha um jogo 6 a 1 e é terceira classificada na Liga - os adeptos apregoam grandeza, ameaçam com humilhações aos rivais e iniciam os preparativos para o acolhimento do troféu de campeão nacional. Não quero com isto desfazer das exigências de uns nem da boa época de outros. Estou só a observar Benfiquistamente, aqui na minha poltrona encarnada...

domingo, 23 de outubro de 2011

Bom gosto e finésse

O Correio da Manhã faz chamada de primeira página com a vitória do Benfica em Aveiro. E não deixa créditos por mãos alheias: sobre a foto, pode ler-se «Águias agradecem oferta de Rego».

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Talvez pudesses ter ficado calado #3

Rui Moreira, cujos créditos firmados na indústria de ser bastante parvo já não deixam que o público se surpreenda dia sim, dia sim, escreve hoje uma série de coisas absolutamente irrelevantes na sua crónica d' A Bola. Felizmente para nós, leitores, fá-lo com o talento literário que se lhe reconhece e que adiante passarei a expor em dois exemplos que confirmam o que ora escrevo.

«(...) em princípio justificaria um cartão amarelo para o adversário. Acontece que esse jogador cipriota já tinha recebido um amarelo dessa cor

Não sei se deva comentar. Penso que não. Digo apenas que tive aqui um vislumbre das inigualáveis declarações de João Pinto (o do Porto) às rádios e televisões no final dos jogos.

«Espero que Walter passe a ser uma opção para Kléber que, não tendo feito uma boa exibição frente ao APOEL, não me parece ser apontado como réu por o Porto não ter ganho o jogo

Aqui a coisa divide-se em dois.
Primeiro, acho bonito o gesto de Rui Moreira, na melhor tradição portista, ao prestar aconselhamento sentimental ao Kléber. E mais: concordo. O Walter parece-me um bom rapaz e talvez seja um bom partido. Espero que o Kléber lhe dê uma chance.
Segundo, a concretização da ideia de Rui Moreira relativamente a Walter como - suponho eu, após profunda análise e interpretação do texto - alternativa para o lugar de ponta-de-lança. É daquelas concretizações à ex-Postiga, quando ele ainda não fazia pontapés de bicicleta. Invariavelmente, transformava golos feios em bonitos pontapés de baliza, sem ninguém perceber bem o que ali tinha acontecido.

Por falar em Capitães

Notava eu, em momento auto-contemplativo, que me tenho visto puxado para o tema "Capitão" aqui nos últimos posts. É um tema que me é caro. Estava a tentar recordar-me de todos os capitães do Benfica que conheci (há alguns de que mal me lembro, como o Humberto Coelho, por exemplo) e existe ali um fosso entre a saída de João Vieira Pinto e a chegada de Simão. O Drulovic sei que usou a Braçadeira, mas não me recordo de mais ninguém. Se alguém souber e quiser ter a amabilidade, que deixe aí na caixa de comentários o nome ou nomes de Capitães da época.

Considerando apenas os Capitães não ocasionais, vou listar aqui aqueles de que me lembro bem: Veloso, Vítor Paneira, João Vieira Pinto, Simão, Drulovic, Hélder, Nuno Gomes e Luisão (o papel foi desempenhado por outros, eu sei, mas porque esses outros eram sub-Capitães). Estava a tentar perceber qual deles era o meu preferido. E estou bastante indeciso entre Veloso e Luisão.

Podíamos fazer aqui um votação - "o melhor Capitão do Benfica que eu já vi". Voto no Veloso, que tenho andado nostálgico dos 80's.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Homem da Braçadeira - um épico de dimensões reduzidas texto de dimensões reduzidas mas em tom épico

Penso na braçadeira de capitão do Benfica e sinto a mão de cento e vinte mil Benfiquistas a segurar-me com força no braço esquerdo e a dizer-me “leva-me contigo! Leva-me até à vitória!”.

O Tríptico sagrado do Benfica é, para mim, o seguinte: a Águia de Soares Branco, a Estátua d’ Eusébio e a Braçadeira. Eu sei que há as taças, eu sei que há o estádio, eu sei que há os jogadores, os ídolos. Mas as taças conquistam-se, os estádios destroem-se e constroem-se, os jogadores chegam e vão, marcam e sofrem golos e, depois, um dia arrumam as botas.

O Tríptico sagrado simplesmente existe, está ali. Este Tríptico é, por partes: o nosso símbolo, o nosso exemplo e a nossa responsabilidade. E é com estes elementos – a noção de quem somos, o conhecimento do caminho que devemos seguir e a consciência da responsabilidade que temos – que o Benfica se faz, de geração em geração.

Se os dois primeiros elementos desta Trindade Benfiquista são de dimensão simbólica, pedagógica e moral, já o terceiro elemento é o elo de ligação entre a nossa essência e os nossos humanos. A Braçadeira é a Unção.

Esta introdução, que faz uso leviano de termos religiosos e que é até susceptível de ofender, por exemplo, católicos não-Benfiquistas, serve para que tenhamos uma chamada plataforma de entendimento. O seu propósito – o propósito da introdução – era deixar bem explícito o quanto eu considero importante aquela faixa branca que um e só um de cada vez usa no braço esquerdo. Eu já fui muito ofendido por causa deste assunto. Muito magoado. Eu vi o Drulovic ser Capitão com uma época de Benfica depois de uma eternidade a jogar pelos outros. Eu vi o Simão a personalizar a Braçadeira – a Braçadeira que é do Benfica, não de jogador algum! Eu vi Capitães serem eleitos. Um Capitão do Benfica não pode ser eleito nem escolhido; tem de ser óbvio, natural. Tem de ser “o tal”. A Braçadeira e o Capitão têm de ser como Artur e a Excalibur: feitos um para o outro, à espera um do outro.

Tenho a felicidade de olhar para os nossos Capitães e dizer “sim, senhor: está bem entregue”. Luisão poderia perfeitamente já ter nascido Capitão do Benfica. E Pablo Aimar é o melhor filho adoptivo que este clube alguma vez teve. Já o disse várias vezes, mas não me canso de repetir porque isto é demasiado importante e demasiado bom para ficar só comigo, há que partilhá-lo, há que dizê-lo dezenas, centenas, milhares de vezes: eu sinto orgulho ao ver Pablito com aquela camisola 10; eu sinto comoção quando o vejo com a Braçadeira.

Mas os jogadores vêm e os jogadores passam, os Capitães chegam e os Capitães partem. Uns deixam saudades e outros não deixam coisa nenhuma. Uns deixam boas memórias, outros acrescentam-lhes conquistas. E outros ainda deixam pontos de interrogação. Há uma estirpe muito específica que deixa pontos de interrogação e de exclamação, intercalados uns com os outros. Mas a Braçadeira fica.

Um exercício que tenho feito esta época é olhar para os nossos reforços ou para os nossos mais jovens e pensar “quais, de entre estes, poderiam suceder a Luisão e Aimar?”. É um exercício interessante. Obriga a pensar nos jogadores numa dimensão metafutebolística. As posturas, os traços, a maneira como se empenham e cumprem, a personalidade que revelam, a gestão que fazem do jogo, a forma como intervêm nele e como comunicam com treinador e companheiros de equipa, com os árbitros e com os adversários. Luisão e Aimar são distintos - tanto do universo em geral como entre si: um é patrão, mandão; outro é mais diplomata (apesar de ralhar muito com os adversários, por exemplo, e de interrogar os árbitros como se fosse professor deles).

Este ano recebemos bons jogadores, jogadores com muito nível. Esse nível pode ser aplicado até no que respeita à possibilidade de serem usados pela Braçadeira – a Braçadeira não se “ostenta”, como alguns comentadores e relatores teimam em afirmar; ostentam-se os Rolex e os BMW; a Braçadeira transporta-se com honra, respeito e devoção.

A alguns custa-me imaginá-los como Capitão. O Nolito, por exemplo, não chegará lá. Ou o Emerson. O Garay pode ter perfil, mas jogando ao lado do Capitão actual é difícil avaliar. O Witsel tem potencial, mas ainda é tímido – talvez por jogar entre Javi (um sucessor natural, digo eu) e Aimar, o Capitão na ausência de Luisão. O Rodrigo ainda é demasiado jovem – mas tem traços valiosos e aparenta ser confiante e maduro, pode vir a ser um líder. Mas há dois que me convencem. Artur é inquestionavelmente líder. Pela estampa, pela postura, pela qualidade que denota, pela confiança que transmite aos colegas, pela voz de comando, pela serenidade, pela força que demonstra sempre que intervém. Tem tudo. E há outro, que muito me tem surpreendido e que me surpreende – a mim mesmo! - neste preciso momento, à medida que escrevo isto: Bruno César. Este homem tem muito futebol. Discreto mas interventivo, simples mas elegante (na maneira de jogar), participativo e confiante. Primeiro que tudo – e aproveitando que a conversa vai cheia de elogios -, penso que estamos perante um jogador da categoria “master” (craque é o Nolito, craque é o Gaitán) e, a confirmar-se este prognóstico, essa qualidade faz toda a diferença.

Isto agora deixa-me numa posição muito desconfortável, como devem imaginar: há três meses não o queria por cá (ele chamou “ponte aérea para a Europa” ao Benfica); há dois meses, afirmei que ele era burro e feio (ele não entendia uma única saída do Aimar a jogar – e via-se mesmo que ficava confuso); há um mês só dizia que ele era feio. Hoje em dia, nem me importo com isso: por mim, pode ser ele o próximo Homem da Braçadeira. Consigo imaginar-me a segurar-lhe no braço esquerdo e a dizer-lhe "leva-me contigo! Leva-me até à vitória!".

terça-feira, 18 de outubro de 2011

É definitivo

É feinho e gorducho, mas quando ele chuta, chuta. Gosto muito de ti, Bruno <3

:')

O filho do capitão

«I miss the bloody 80’s. I bloody miss the fuckin’ 80’s.» Estou a ler, estou a chegar ao fim da leitura, do Damned United, de David Peace. E é assim que ele escreve sobre as coisas, com aquela intensidade, com aquela verdade rigorosa, de dentro da cabeça das personagens. Ele está dentro da cabeça do Brian Clough, uma cabeça que, só por si, no mundo real, já era suficientemente arrojada, genial, intragável, trágica, cómica, hilariante, imbatível e frágil para dar uma grande biografia. Mas quando David Peace lhe mete os dedos nas entranhas, os olhos nas ideias e as palavras na boca e no pensamento, ficamos perante uma obra-prima da literatura moderna. O facto de ser uma história “no” futebol é um mero acidente: é a história de uma vida. É uma epopeia debaixo das bancadas, pelos corredores, ao virar da esquina, por trás das portas, regada com brandy e champagne, queimada com orgulho e dezenas de cigarros por dia.

Se o David Peace escrevesse uma grande obra literária sobre mim e se debruçasse sobre este preciso momento do meu namoro com o futebol, poderia perfeitamente escrever aquela frase lá de cima, com que o texto arranca.

«I miss the bloody 80’s. I bloody miss the fuckin’ 80’s.» Os anos 80 são o meu primeiro amor. Dizem que não há amor como o primeiro. É bem possível. A ingenuidade faz milagres. Eu entrei no Estádio da Luz pela primeira vez nos anos 80. Nos anos 80 o futebol era o contrário do que é hoje: era o dentro do campo e o fora do campo, os jogadores a chegarem em carros baratos e a almoçarem em tascos de terceira, o Chalana e a Anabela, o Shéu ainda era capitão, sucessor do Humberto Coelho e a gente parecia que conhecia todos, cada um deles, de jantares de família, eles eram quase nossos primos ou nossos vizinhos e não tinham agentes nem empresários e os negócios faziam-se com pinta, não era por DVD’s e anúncios nos jornais. Hoje é tudo muito internet, muito conferência de imprensa. É tudo pré-formatado, até as chuteiras vêm às fatias e depois monta-se, tipo Lego. E são amarelas e vermelhas e verdes e azuis. Dantes eram pretas e as riscas eram brancas e pronto. Nos anos 90 a Lotto fez as Donadoni e aquele símbolo verde fluorescente mudou as nossas vidas e o próprio futebol.

Nos anos 80, os ídolos do futebol eram muito mais humanos e, por isso, muito mais divinos. Sim, o Cristiano Ronaldo tem uma horta e o Coentrão vai-lhe lá roubar as couves. É um princípio, uma aproximação. Mas não é o que era. Nos anos 80, os jogadores eram frágeis e perdiam as casas e as mulheres a jogar ao poker, quando não era mesmo à lerpa, enquanto fumavam charutos e bebiam Jack Daniels. E isso era fixe. A dimensão decadente do futebolista de topo, o quanto maior a ascensão, maior a queda, eram tão mais apaixonantes que todo o juizinho do Messi, todo o cuidadinho com as unhas do C’stiano. Até a rebeldia do Ibrahimovic é coisa de menino se for comparada com o mau aspecto do Chalana que levou a direcção do Benfica a impor regras de apresentação no recinto do clube – regras que o Fernando não cumpriu, evidentemente.

No final dos anos 80, tinha o Benfica chegado à final da Taça dos Campeões, chegou ao Benfica Vítor Paneira. Eu a modos que me propus a escrever uma apologia de Vítor Paneira numa caixa de comentários de um blogue praticamente primo mais velho deste. Porém, depois de todos os comentários que lá foram deixando, temo não ter muito mais a dizer sobre o elegante e brilhante 7, o mais genial ala direito que vi no Benfica. Paneira era de Famalicão e foi por lá que começou a dar nas vistas. Depois foi para o Vizela e o Benfica chegou a acordo para o arrancar de lá, meio a ferros. O Paneira não tinha empresários – nessa altura, para termos uma ideia, o Rui Barros ia para a Juventus e comprava Renaults 5s para os colegas que deixava no Porto. Não havia cá essas mariquices dos "empresários". Dois anos depois de ter chegado ao Benfica, Paneira foi preso. Foi condenado como “desertor”. Basicamente, fugiu à tropa para vir jogar para o Benfica. Se isto não é suficiente para ser o meu primeiro jogador preferido, não sei o que será. Acontece que não o foi (e eu no outro dia disse que foi, mas não foi, enganei-me, menti, omiti umas coisas, fiz confusão), mas já lá chegaremos.

Nos anos 80, quando os jogadores tinham Fords Cortina e Opéis Mantha – se fosses ponta-de-lança de renome, claro -, tive a minha primeira discussão futebolística. Foi com o meu pai. Eu e o meu pai sempre discutimos muito. Essa discussão foi por causa da final de Estugarda. O meu pai apostou dois almoços com amigos – mas apostou que o Benfica perdia. Aquilo ofendeu-me. Explicou-me ele que, assim, era como um prémio de consolação, “eu ganho um almoço para me confortar pela derrota; se tivéssemos ganhado, eu pagaria pela nossa vitória, entendes?”. Não. Ainda hoje não entendo como é que a comida poderia passar pelo meu esófago a saber a lágrimas e a raiva. Prefiro perder tudo – a puta da taça e os cabrões dos almoços. Mas nunca na vida hei-de comer nem beber às custas de uma derrota do Benfica! Não admito que me paguem para perder. E se o meu pai me estiver a ler, que fique bem claro: isto não é um negócio. Eu não troco uma coisa pela outra. Não quero meios termos. Não compro vitórias nem vendo derrotas. Foi o meu pai que me ensinou “entra sempre com tudo, senão magoas-te”. E é isso, um gajo entra com tudo.

Eu penso que o meu pai me fazia destas coisas para me testar. Eu quero acreditar que era só isso. Queria ver até onde é que eu ia. Eu, esse pequeno e ingénuo Benfiquista. Seria o meu sangue puro? E a minha crença? E a minha paixão? E os meus argumentos? Foi por isso, acho eu, que o meu pai sempre odiou os jogadores que eu adorei. Sempre fez questão que eu lhe explicasse e provasse e argumentasse até ao exaspero qualquer que fosse a afirmação e expressão de admiração fosse por quem fosse que vestisse aquela camisola. Um dos alvos preferidos do meu pai foi, claro, Vítor Paneira.

Eu quero acreditar que o meu pai sabia o que valia o Paneira e que quando dizia que “essa Amélia é um fiasco” o fazia só para me deixar naquele ponto de rebuçado que precedia a fúria que me ruborescia as faces quando ele acrescentava “qual Vítor Paneleira”… E eu, porque estava perante o meu pai, tinha de controlar a ira e transformar a raiva em enérgica e poderosa argumentação. Nunca desisti e bati-me sempre até ao fim. E esse poder vinha-me da genuína admiração por essa figura franzina, com jeito de anca e uma hesitação desconcertante nos pés, que eram metidos para dentro. Paneira foi a minha prova de maturidade futebolística, foi a figura que me fez observar e ser rigoroso, sem deixar pontas soltas, para me poder defender com factos, com provas e com argumentos, demonstrando, inequivocamente, que ele era o melhor ala direito da época. O melhor de Portugal. Um dos melhores da Europa. Ele, o Vítor Paneira que foi preso porque fugiu à tropa para jogar no Benfica. 75 dias.

«I miss the bloody 80’s. I bloody miss the fuckin’ 80’s.» Tenho saudades desse tempo de jogadores de carne e osso que eram divinos. Tenho saudades do Maradona. Tenho saudades de quando o Paneira me salvou a paixão e de então acreditar que a paixão podia ser salva sempre, acontecesse o que acontecesse. O Paneira salvou-me a paixão quando desertou da tropa para jogar no Benfica. Porque o meu primeiro amor não foi o Paneira. Foi o filho do Capitão. Esse que nos meteu - duas vezes de cabeça - na primeira final da Taça dos Campeões que eu vi de cachecol enrolado nas mãos - e que a seguir desertou do Benfica para jogar no Porto.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Fernando Mendes, o homem incompreendido - um post sem reflexões mas que merece reflexão

«Ao contrário do que se pensa, nunca ganhei muito dinheiro na bola. Para a qualidade que tinha, nunca fui um jogador caro.»

«Num clube grande, só fui expulso uma vez e só faltava pisar-lhes a cabeça.»

«Orgulho-me muito da minha carreia.»

«Sou humilde, admito as merdas todas que faço, não fujo. Magoa-me é que não fui eu quem me colocou nesta situação.»

«Não faço outras coisas melhores porque há gente com inveja de mim, embirram comigo. Sei que também sou bonito, tenho este aspectozinho. Não sou é rico, mas mesmo assim têm inveja de mim.»

«Não tenho a melhor imagem, infelizmente. Criou-se uma ideia errada acerca de mim, que me prejudicou.»

«Falei a verdade! Aquele Benfica era mesmo uma equipa foleira e disse-o em plena Luz.»

«Não foi para ofender a instituição [o Benfica], embora soasse a isso, percebo.»

«Vou a Alvalade ver o clube que é o meu, mas evito ir à Luz. Aliás, não me apanham lá mais.»

«O Sporting é maior que o Porto.»

[Excertos retirados da entrevista que Fernando Mendes concedeu a O Jogo e que é publicada na edição de hoje, 13 de Outubro de 2011.]

terça-feira, 11 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Leve suspeita

48% do eleitorado da Madeira gritará "Messi, Messi" da próxima vez que Cristiano Ronaldo visitar a sua terra natal.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Por Portugal

Hoje é dia da selecção e eu quero mais é que a selecção ganhe.

As selecções entristecem-me. Não posso gostar daquelas de que gosto muito e dou comigo obrigado a gostar de uma por quem, muito sinceramente, não morro de amores. Por que é que eu não posso ser da Argentina, essa lendária mãe de D10s e de Kempes, de Burruchaga e de Caniggia, de Aimar e Saviola e do Riquelme, o melhor jogador mais tímido do mundo, de Cambiasso e do principezinho que um dia será o rei dos reis? Por que é que eu não posso usar azul celeste e brindar aos golos do Messi, por que é que me fazem sentir mal se não ferver com o vermelho e verde, os golos à bruta do Ronaldo, os passes stressados do Carlos Martins, as idas à linha à pressa de um João Pereira qualquer, as entradas assassinas do Bruno Alves?

Eu, que nunca fui de outra coisa que não do Benfica, eu! – logo eu – obrigado a, daqui a horas, ficar ansioso por cada golo que o Postiga há-de falhar a três palmos da baliza. Ou a sentir-me agastado de cada vez que o Nani estragar uma jogada ao Cristiano só porque o protagonista não estava a ser ele próprio. Eu não gosto desta selecção. Gosto do meu país e habituei-me, desde sempre, a torcer por Portugal. Mas não consigo e nem sei se gostava de conseguir gostar genuinamente deste aglomerado inestético de jogadores sem pingo de classe.

Oh, tivesse eu um Rui Costa ali e um Figo acolá, um João Pinto lá à frente, o Pedro Barbosa a conduzi-los, o Paulo Sousa a guardar-lhes as costas. E lá atrás as paredes, Costa e Couto, as bestas. Eu tenho saudades de sentir paixão pela selecção. O Baía elegante a mandar subir.

Com esta gente, não consigo mais do que reconhecer-lhes o esforço e agradecer-lhes o empenho. Fico contente quando ganham, mas não exultante. Quando não ganham, não fico contente, mas raramente me lembro disso por mais do que um par de horas. Tenho pena quando falham as grandes competições – porque tenho pena sempre que Portugal não está lá – mas não sofro verdadeiramente por estes homens.

Eu sei que o Ronaldo é genial, um dos melhores de sempre. Também eu gosto de o ver jogar. Mas prefiro vê-lo quando ele não me diz nada, quando nada tenho para lhe exigir e posso simplesmente fruir do seu jogo. Aqui, junto com estes outros, não gosto de vê-lo. Parece um ídolo forçado. Quase um mártir, obrigado a jogar com quem não o merece.

Logo à noite joga a selecção. Mas eu, muito honestamente, quero mais é que a selecção ganhe.

Pedido de desculpas

Erro.

Paulo Sousa Costa, alvo da pequena ironia do post anterior, dedicou o livro infantil que escreveu ao filho que perdeu. Nenhuma altura é justa para se perder um filho, mas o caso é mais grave, mais dramático, quando se trata de uma criança de tão tenra idade.

Quando escrevi o texto, não tinha conhecimento do caso (apenas do livro e do seu lançamento). De outra forma, não teria brincado com coisas tão sérias, ainda por cima de uma forma tão ligeira e inadequada - é o preço da ignorância desbocada. Se o Paulo por acaso tiver tido a infelicidade de dar com os olhos naquele texto, fique a saber que o escrevi na mais escura ignorância e nunca me passaria pela cabeça melindrá-lo ou ofendê-lo, nem à memória do seu filho. Foi uma ironia infeliz minha assente, ainda que por desconhecimento, na tragédia de outra pessoa. Peço a compreensão dos leitores. Não pretendia ser maldoso. Não é isso que pretendo, nunca - a não ser que a questão seja estrita e puramente futebolística.

As minhas desculpas.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"Fadas" e "princesas" para os mais pequeninos*

O antigo director da revista Men's Health, Paulo Sousa Costa, editou recentemente o livro As Aventuras do Dragãozinho Azul. Optando por se dirigir a um público infantil e, em especial, ao seu próprio filho, Paulo Sousa Costa transforma uma realidade obscura num conto pueril, contornando com subtileza e metáforas criativas situações e designações de personagens que, inicialmente, seriam acessíveis apenas a um público mais maduro e com alguma experiência de vida.

(* mas dependendo do desempenho.)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Ruben e a felicidade

Ruben Amorim, convocado - surpreendentemente, digo eu - para a selecção nacional não perdeu tempo: chegado à concentração, decidiu mostrar urgentemente toda a sua felicidade por Paulo Bento "pensar diferente" de Jorge Jesus.

Tenho, no entanto, a dizer que me parece que estamos perante uma infeliz série de equívocos.

Para começar - esta é mais para o Ruben -, não me parece que Paulo Bento "pense diferente" de Jorge Jesus. A convocatória não justifica a afirmação (Jesus convoca-o com regularidade, para não dizer "todos os jogos" - não tenho a certeza que tenham sido todos). Se Jesus convoca Ruben e o deixa no banco, parece-me que estamos, então, perante um caso de grande semelhança filosófica entre o treinador do Benfica e o seleccionador nacional. A não ser que Bento me surpreenda ainda mais e dê a titularidade ao Ruben, coisa que duvido. Logo, o raciocínio de Amorim, que peca em vários aspectos, fá-lo, sobretudo, por ser pouco esclarecido e por partir de um pressuposto claramente distorcido, talvez fruto do entusiasmo de el portugués.

Depois há a interpretação das palavras e o contexto em que estão inseridas. Leitor: se tu, com esses dois pés esquerdos e essa barriguinha fosses chamado à selecção não ficarias feliz? Não sentirias alegria por Paulo Bento pensar diferente do resto do mundo, que nunca acreditou em ti, nem na escola primária quando eras o último a ser escolhido, que só deixaste de ir à baliza quando compraste a tua própria bola e as regras mudaram nesse dia? Eu ficaria. É natural e compreensível que o Ruben também fique. Ir à selecção é um motivo de orgulho para qualquer português - que não se chame Ricardo Carvalho, Tiago, Simão Sabrosa ou, quer-me parecer, Danny. Ruben Amorim não é diferente do português médio (até porque é o lugar dele): somos pateticamente patriotas, sobretudo com gestos e causas menores, e o Scolari bem pode confirmar o que digo. Logo, não tem mal o Ruben mostrar-se "feliz por Paulo Bento pensar diferente de Jesus" - embora esteja redondamente enganado, como demonstrei atrás.

Para terminar, queria condenar as reacções belicosas às afirmações de el portugués. Não me parece que seja justo - por mais que se esteja errado, como é o caso - que um jogador seja obrigado a constantemente comer e calar. Ele não disse que discordava de Jesus, expressou apenas agrado pela confiança de Paulo Bento. Parecendo que não, são coisas distintas. Podem dizer "ah, não... aquilo foi uma crítica implícita a Jesus". E eu posso dizer "estás mas é parvo... o rapaz está só um bocadinho eufórico". E ficamos nisto horas a fio se for preciso. Porém, e com muita pena minha, tenho de ir fazer o jantar. Portanto, ficamos por aqui.