quarta-feira, 27 de março de 2013

Ir sozinho ao Estádio

Foi num ambiente de grande azáfama que os filipinozinhos lá conseguiram, por fim, terminar o texto que lhes encomendei. E o texto diz assim:

Eu gosto do Benfica. O Benfica é muito bonito. Gosto muito de ir ao Estádio da Luz porque o Estádio da Luz é muito grande e muito bonito e é lá que joga o Benfica e eu gosto muito do Benfica. Mesmo que eu vá sozinho ver o Benfica ao Estádio da Luz, fico muito feliz porque gosto muito do Estádio da Luz e do Benfica porque são os dois muito bonitos. E muito grandes.

Foi o que se arranjou e aproveito para deixar aqui uma pequena nota ao cuidado do engenheiro de Azevedo: a mão de obra barata e pouco qualificada não traz só benefícios - gastei eu um balúrdio em Oreos para isto. Quanto ao texto em si, percebe-se a ideia fundamental que, enfim, resume o meu sentir e a minha forma de estar. No entanto, ficaram aqui coisas por dizer. Por exemplo, a palavra "encarnado" não surge uma única vez, o que é, no mínimo, grave. Não sei que raio de educação dão às crianças lá nas Filipinas, mas isto para mim é muito pouco.

Eu dantes ia ao Estádio com o meu pai. Foi assim que tudo começou, numa bela tarde de domingo de mil novecentos e oitenta e picos, em que ganhámos por não sei quantos ao Vitória de Setúbal. O meu pai tentava, a custo, explicar-me o que era "o golo". Na minha cabeça, nada daquilo fazia muito sentido: na altura, considerava bem mais meritório um bom pontapé para cima. Um chutão que fizesses cócegas na estratosfera era, para mim, muito mais impressionante e digno de euforia do que a colocação de uma bola no fundo das redes. Poderíamos analisar calmamente o assunto, abordar o tema pela origem ancestral do belo desporto, cuja génese se partilha com o bonito râguebi. No entanto, pouco tempo depois entendi que gostava muito mais de ver o Maradona driblar, em velocidade estonteante, cerca de duas dezenas de ingleses do que de assistir ao pontapeamento bruto e rude do esférico por esses mesmos ingleses, porventura ainda demasiado próximos da tal génese do futebol, já para não falar da proximidade geográfica à Irlanda, país cujo desporto-rei se chama "futebol gaélico" - quem não conhece: procurem, vale a pena.

Continuei a ir ao Estádio com o meu pai durante alguns anos e fui indo cada vez menos, fruto da desilusão que a implosão pelas mãos sujas do Artur Jorge veio a provocar. O retomar das idas mais ou menos regulares aconteceu em 1998, depois de me mudar para Lisboa. Normalmente, ia ao Estádio com o meu irmão, nessa altura. Mas não era fixo, às vezes era diferente.

O hábito de ir à Luz é irreversível, inexorável. De cada vez que lá vais, fortaleces o apelo do Santuário. Por cada golo que lá festejas, aumentas o poder que o Anfiteatro tem sobre ti. Por cada derrota a que lá assistes, potencias a responsabilidade que sabes que tens no meio daquela multidão crente. Se lá entras, não mais lhe poderás fugir. O Estádio da Luz é o teu mestre e tu serás cada vez mais um seu acólito.

Com o passar do tempo, os amigos com quem fui partilhando as idas ao Estádio foram sendo cada vez mais variados. Ao princípio, ia, na maior parte das vezes, com o meu amigo Tolan, mas depois quebrei essa fidelidade quase exclusiva e passei a ir também com ilustres Benfiquistas de Alfama - com alguns dos quais ainda tenho o prazer de ver a bola na Típica, quando o Benfica joga fora; outros, infelizmente, já não os vejo há muito. Mais recentemente, tive o privilégio de assistir à bola com a 191036 e ainda com o Norberto Roberto Adalberto Gilberto, que acabou por me oferecer de presente de aniversário o kit sócio que veio a dar origem ao distinto número que dá nome a este blogue.

Transformado em sócio efectivo, transformei-me igualmente em adepto assíduo e insaciável. Só não vou à bola quando não posso. Ou quando não devo - às vezes detecto na expressão da Lady Verde um certo «compras esse bilhete, eu meto o divórcio» e sou homem para abdicar de uma eliminatória da Taça da Liga, por exemplo. E, às tantas, vou à bola com toda a gente e com qualquer um - isto, não desfazendo da boa companhia que invariavelmente tenho tido; quando digo "qualquer um" é no sentido de que o critério para ir à bola convosco é bastante lato: ir à bola é condição mais que suficiente - se forem à bola, podemos ir juntos.

Sucede que a dependência de companhia não é compatível com a dependência de ir à Luz. Uma pessoa vai à Luz porque vai à Luz, porque tem de ir, porque não há maneira de não ir, porque é o Benfica que joga. Não se vai à Luz porque se tem companhia: se ela existir, tanto melhor - mas não passa daí.

Partilhar um jogo no Estádio com amigos é uma experiência gratificante, um ritual que está, para mim, entre as coisas que me fazem feliz. Mas em Novembro passado tive uma experiência reveladora. Um amigo ofereceu-me (mais ou menos...) bilhete para o Benfica - Spartak. Supostamente, eu iria ficar no lugar dele, no meio dos amigos dele. Não vi lá ninguém. Toda a fila estava por minha conta. Aliás, o sector estava quase deserto. A pessoa mais próxima, uma rapariga dos seus vinte anos, também sozinha, estava duas ou três filas acima de mim, num lugar bem mais para o lado direito. E foi então que eu senti o que de mais esmagador existe naquela entidade, fundida entre Estádio e Benfica: a maravilhosa e austera solidão de um Benfiquista.

No domingo, antes de comprar bilhetes para os jogos com Rio Ave, Newcastle e Paços de Ferreira, tive a tentação de mandar mensagens para amigos a perguntar se iam, para onde iam, se queriam ir comigo, se eu podia ir com eles. Mas depois disse para mim «não, Diego. Tu vais mas é sozinho». Menos para ver o Newcastle, que eu para esse levo um amigo "de outras cores" que tenho levado aos jogos da Europa este ano e que tem dado sorte - já se sabe, em equipa que ganha não se mexe. E já me ia esquecendo de escrever "encarnado".

terça-feira, 26 de março de 2013

Comunicado da administração

A Administração do sócio 227218 vem por este meio apresentar oficialmente as suas desculpas pelo texto publicado durante a madrugada de hoje, considerando o mesmo manifestamente impulsivo, abusivo e absurdo.

O senhor administrador-em-chefe aproveita para declarar, muito brevemente, a sua decisão quanto à matéria em apreço:

«Não, não vou apagar isso. Houve três moços que consideraram o material "divertido" e ainda um anónimo esquisito que o classificou de "interessante e fantástico". Eu nem nunca tinha reparado que esses botõezinhos existiam, pelo me parece que há aqui fundamento para considerar que se trata de um texto de utilidade pública. Conserve-se o texto.»

A administração confessa ainda o seu espanto e, de certa forma, alguma preocupação para com as pessoas que se deram ao trabalho não só de ler até ao fim como de ainda carregar nos tais botõezinhos de que fala o administrador-em-chefe. Quanto ao anunciado texto acerca das "idas solitárias ao Estádio", está em progresso, tendo a empreitada sido entregue a um bando de crianças filipinas que dantes trabalhavam para a Nike, a coser as bolas oficiais da liga espanhola, e que agora aprenderam a escrever. Logo que esteja pronto, será publicado para acabar com o tom bizarro que tem marcado estas últimas horas.

Frank. Foda-se, Frank.

Estou a falar convosco - por "vosco" eu compreendo todas as pessoas que estão, enfim, a ler esta frase - ao mesmo tempo que jogo um xadrez online com um tipo particularmente agressivo (que por acaso é meu cunhado e três vezes maior do que eu) e que bebo um copo de vinho tinto. Que é o úçtimo. E amanhã nunca mais bebo na vida. Foda-se. Devia ter só 17 anos. Mas vamos a istos. Isto. Vá. A isto.

O que eu tinha para dizer não é particularmente importante. Sobretudo gostaria dizer que estou a ouvir o Frank Zappa enquanto falo convosco. E por vosco já não quero dizer nada, na verdade. Quero que se fodam os voscos. Ouçam o Zsappa. Sem s a seguir ao z. É do caralho. Não posso beber whisky que digo asneiras. Amanhºã vou a+agar este texto. Hum. Não,. até que é fix.

Jazz is not dead it just smells funny.

O Zappa é tão o número dez que eu gostava de ver no Benfica. É maravilhopso. Um Mestre. MESTRE!

Eu ia escrever um texto sobre ir sozinho ao Estádip. Escrevo amanhã. Hhhmmpteemmpommptridah.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Miguel

Estávamos ao balcão da Típica, eu e o Zedu, enquanto Jesus anunciava, sem complicar, que é Jesus mas não é bruxo, e eu disse para o Zedu «será que é desta?» e ele «o que está mal é precisamente este paradigma: a gente perguntar-se se "é desta" como se fosse uma estranheza ganhar; devíamos perguntar se "é desta" quando a possibilidade de perder se anunciasse sob uma nuvem carregada de probabilidade». Ele não terá disto isto de uma maneira tão elaborada e bonita, eu retoquei um bocadinho. Mas percebe-se a ideia e é uma ideia fundamental: enquanto nós encaramos a possibilidade de ganhar como uma agradável surpresa, os portistas encaram a iminência da derrota com o desagrado de quem não está, de maneira alguma, habituado a perder. Para eles, a vitória é o estado natural, enquanto para nós é uma variação exótica da realidade. E não há nada que possamos fazer quanto a isto, a não ser mudar, lentamente, a realidade: ganhando cada vez mais e fazendo-os perder na mesma medida. Vai levar o seu tempo, mas o caminho que levamos parece-me o correcto.

Não pretendendo anunciar grandes novidades, cabe-me informar que faltam 7 jogos, ou seja, há ainda 21 pontos por disputar. O campeonato não está ganho, da mesma maneira que não estava perdido há duas semanas, quando em vez de um Porto fraco, sem ideias e cansado o nosso rival era um Porto esplendoroso, fortíssimo, dominador e asfixiante, que meteu o Málaga no saco, «goleando-o por um a zero», enquanto o Benfica ganhava jogos com muita timidez, muita sorte e por poucos golos. Não goleámos o Bordéus, por exemplo, nem o Beira-Mar, nem outras equipas de que agora não me lembro, e não fomos fantásticos nem deslumbrantes. Fomos ganhando, e tal, numa sequência magrinha de serviços mínimos e algum esforço.

Duas semanas, em futebol, pode ser muito tempo e quem hoje ler os jornais percebe que, no mínimo, se tratam de equipas diferentes, este Benfica e este Porto, agora que os primeiros trataram de fazer 9 golos em dois jogos para o campeonato, eliminando, pelo meio, um Bordéus que mal deu para aquecer (marcando 3 golos fora, já agora), ao mesmo tempo que o Porto, esmagador e esplêndido, se deixou eliminar pelo insurrecto Málaga da mesma maneira que voltou a perder pontos no campeonato: tendo muita bola mas não sabendo muito bem o que fazer com ela quando chega a hora da verdade. É curioso que já em Fevereiro eu havia comentado com um amigo portista que o Porto jogava muito bem à bola, mas que lhe faltava "golo" - e isto apesar do extraordinário Jackson lá na frente (não estou a ser irónico: pode falhar penalties, mas é um avançado extraordinário, com uma série de argumentos e talentos que são de impor respeito).

Enfim, mas todo este discurso não passa de uma introdução para o assunto fulcral que me trouxe aqui: o sonho que tive na noite de sábado para domingo. Foi um pouco assustador. Vou resumir: Luís Filipe Vieira fazia um anúncio oficial no qual declarava explicitamente que a renovação com Jorge Jesus dependia do resultado com o Vitória de Guimarães. Caso não ganhasse, não havia renovação para ninguém. Até aqui, tudo é mais ou menos aceitável - embora tremendamente injusto, digo eu. O pior vinha a seguir. O presidente declarava o seguinte: «caso Jorge Jesus falhe na sua missão, já temos treinador para a próxima temporada, um homem da casa: Miguel, que já nos deu tantas alegrias como jogador, passará a liderar a equipa técnica». Foi nesse momento que acordei, calcei os chinelos do Benfica, coloquei 4 cachecóis do Glorioso ao pescoço, montei o altar com as Digníssimas Encarnadas e pus água a ferver para fazer um chá de camomila.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Lima. Isaías. Vata. Artur.

No meio de um momento atribulado e cheio de ques, mas e ses, andamos, eu e a Lady Verde, a equacionar a possibilidade de mudar de casa. Para uma casa nova, pretendemos, ainda assim, alguns elementos de conforto: não nos vergamos à escassez de luz natural, damos preferência a uma vista para o rio, mesmo que não seja imponente e desafogada, e ficaremos imensamente felizes, praticamente rendidos, se a casa tiver um logradouro, mesmo que seja pequeno. Confesso que até há uns meses eu não sabia muito bem o que era um logradouro. Para mim, as casas tinham varandas, terraços, pátios ou até mesmo claustros, se fossem casas de gente que herda propriedades daquelas à antiga. No dicionário, "logradouro" não é assim bem uma coisa específica e concreta - no fundo, é um espaço utilitário que pode assumir várias formas: pode ser um lugar público de usufruto, como um largo ou uma praça, tanto quanto pode ser um jardim, um pátio ou o tal terraço "anexo a" e com "serventia para" uma casa. No Olx e no Custo Justo, as casas deixaram de ter jardins ou pátios e agora têm todas "logradouros". Portanto, a nossa futura casa tem de ter logradouro. Isto porque queremos ter um cão. Filhos ainda não, que está crise. Mas um cão sim, para irmos testando aqui o universo da responsabilidade de criar e educar um ser que não sejamos nós próprios. Sugeri um peixinho, que é mais sossegado e económico e que dispensa logradouros, mas não fui bem sucedido: fui peremptoriamente notificado de que queremos um fox terrier. Mas não queremos comprar um fox terrier. Queremos que alguém que tenha uma ninhada com excedentários nos dispense um exemplar. Existe, portanto, todo um drama logístico na antecâmara do meu regresso à cinofilia. Um drama que se adensa quando o nome do potencial bicho é o tema de conversa.

-Precisamos de um nome assim rebelde... com graça. Tens alguma ideia?
-Hum... "Diego".
-"Diego"?!
-Sim, "Diego" parece-me um bom nome.
-"Diego"... é o TEU nome.
-E então? Não deixa de ser um bom nome.
-Oh, por favor...
-"Diego"... é assim... moderno, forte, fica no ouvido
-Isso nem é um nome português.
-É latino... tem carisma...
-Diego... vá lá, "Diego" é o teu nome... não vamos dar o teu nome ao cão, ok?
-"Diego"... "Diego" podia ser nome de tudo... Praça do Diego, Avenida do Diego, Diegolândia, os nossos presid
-Diego, vá lá... chega...
-Humpf... Tacuara.
-Não. Não vou dar um nome de um jogador do Benfica ao meu cão.
-Matic.
-Diego... tu deves pensar que eu não vejo os nomes dos jogadores do Benfica nessa merda dessa pilha de Bola's que está na casa-de-banho. Eu sei quem é o Matic, ok?
-Roderick.
-...
-Pacheco.
-Opá...
-O que é? Pacheco é bom, é português e tudo.
-Esse não é aquele que até jogou no Sporting?
-É... pois, esse não. Ainda mordia no dono.
-Ah, pois, do Sporting já não pode...
-Chalana.
-Ai pá, que porra, sempre Benfica, sempre Benfica em tudo, em toda a parte, nos chinelos, Benfica no escritório, Benfica no estúdio, Benfica nos pratos... chega! O cão não se vai chamar Chalana nem Matic nem Tacuara nem Luisão nem Garay. Ok?!?! Não vai.
-Yuran.
-Ai olha, sabes? Desisto. Chama-lhe Eusébio, chama-lhe... chama-lhe Diego, faz o que tu quiseres, chama-lhe João Pinto. Quero lá saber... Olha quero um gato, pronto, porra...
-Gaitán.

Ainda não pensei muito no assunto...

... mas queria o Newcastle ou o Basileia. Acho que prefiro mesmo os ingleses. Seja como for, Rubin Kazan ou Fenerbahçe também não são de desdenhar. E agora vou voltar ao youtube e rever ad nauseam aquele defesa a cair de cu - obrigado, Tacuara.

quinta-feira, 14 de março de 2013

É que não há outra maneira de pôr as coisas

O Roderick vai ser titular no centro da defesa, fazendo dupla com Jardel. Espero, muito sinceramente, que os nossos avançados tenham uma noite deveras inspirada. Fica aqui um pequeno incentivo ao nosso jovem prodígio dos horrores e dos sustos: se o Roderick marcar um golo, eu compro a camisola com o nome e o número dele. Pior: disponho-me a vesti-la em público.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Bis! Bis! Bis!

Têm sido dias complicados para um Benfiquista, entre assobios, vitórias magras e goleadas. Uma pessoa não sabe se assobia, se não assobia. Ontem um amigo Benfiquista dizia-me «mas se uma pessoa vai ao Estádio e não gosta da atitude deles, acho muito bem que assobie» e eu peço imensa desculpa por ter pensado que uma pessoa vá ao Estádio para mostrar amor ao Benfica, movendo-se a devoção e paixão, e partilhar o esforço, as tristezas e as alegrias com quem está dentro do campo ou com quem está ao nosso lado. Nunca me ocorreu que ir à Luz fosse como ir ver as revistas ao Parque Mayer - logo eu, que podia estar horas a olhar para o Zé Raposo e para a Rita Ribeiro a serem molengões e a falhar golos de baliza aberta em palco: desde que tivessem vestida a camisola do Benfica, nunca ouviriam um assobio meu, a não ser de regozijo ou de êxtase por qualquer piada sobre "o governo" mais desempoeirada e fresca ao mesmo tempo que metessem a bola na rede.

Ontem o Benfica ganhou de vitória magrinha, uma vez mais. Não é piada. Num dia bom - e eu esta época já vi muitos jogos bons - poderíamos ganhar pelos mesmos 5 a 0, mas criando oportunidades para 22, 23, 24 golos. Ontem marcámos 5 com oportunidades para fazer não mais que 3. O primeiro golo, por exemplo, só consegui festejá-lo já estávamos nós a marcar o segundo, ou seja, quando o riso abrandou para dar lugar à estupefacção. «O Salvio contornou muito bem os pinos», comentou então um amigo meu sportinguista, com alguma amargura. «Se houvesse uma Champions League de pinos, este Gil Vicente não passava da fase de grupos», completou. Discordei. Seria equipa para atingir os oitavos-de-final, «pelo menos!», defendi eu.

Ao terceiro, finalmente, fizemos um golo digno do nome: Melgarejo e Ola John trabalharam bem e o homem que se inaugurou na Luz com um autogolo conseguiu, por fim, aquilo que há tanto tempo merece. E fê-lo com pinta. Teve muita classe ao picar bola por cima do jovem que eles tinham na baliza a fazer de guarda-redes. O Paulo Alves achou que era demais, revoltou-se com uma garrafa e, aparentemente, terá decidido: «acabou-se! Na segunda parte, jogamos com um guarda-redes mesmo». O certo é que nos outros dois golos que o Benfica marcou a baliza também estava deserta. Houve uma clara tendência para "desocupar aquele espaço nos momentos cruciais", como diria o Freitas Lobo.

Mas a segunda parte teve dois momentos que eu classificaria de "aristocracia futebolística" - e acabaram por resultar nos tais dois golos do Benfica. Primeiro, a abertura do Tacuara no lance do golo do Lima; segundo, a temporização, a leitura, a certeza e a simplicidade de passe nos pés de Aimar, no lançamento de Salvio para o último golo da noite. Ambas as jogadas foram bonitas, bem trabalhadas, eficientes e precisas. Mas estes dois gestos foram dignos de futebolistas superiores. Depois de uns dias agitados e num momento em que se debate a poupança, a magreza e outras desgraças que, enfim, eu diria que estão por acontecer - já que ainda não aconteceram, apesar das repetidas profecias - a esta equipa, sabe bem observar dois lances assim. Espero que os nossos rapazes ganhem alento para quinta-feira irem à França fazer aquilo que ficou por fazer na primeira mão: terminar o jogo sob uma chuva de merecidos e Gloriosos aplausos.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Musika agression!

Hoje sinto-me mais Nani. O futebol anda muito cheio de amor e carinho e compreensão e cortesias, trocam-se camisolas e elogios, as pessoas concordam umas com as outras e por aí fora. É só gestos bonitos e lágrimas e coisas comoventes. Ele é a Juve e o Celtic, ele é o Mourinho e o Ferguson, ele é o Cristiano e o United. Mais parecem casalinhos. Mas isto é o quê?! Isto é o Titanic ou é jogar à bola? Nani, estou contigo.

O meu dia não tem corrido muito bem. Às vezes, ouvia na televisão falar sobre aquelas pessoas que nem conseguiam dormir, tal era a fome. Compreendo-as bem: acordei às dez e não voltei a dormir. Umas ganas de comer mesmo daquelas. Mas depois dava-me preguiça, ao mesmo tempo, e não me apetecia ir fazer o pequeno-almoço. Resultado: não comi nem dormi. Esta situação deixou-me um pouco mais agressivo do que é habitual. Isso e não poder ir à Luz logo à noite. Haja música!

terça-feira, 5 de março de 2013

Vai de penalty

Tenho recebido reclamações de alguns leitores: que me falta o timing, que falo pouco de bola, da equipa, dos etecéteras, por aí fora. Reconheço que têm alguma razão. Raramente escrevo aqui tudo aquilo que poderiam ler em qualquer jornal desportivo ou blogue especializado no dia seguinte a um jogo do Benfica.

Hoje não é dia de Benfica nem é dia a seguir a um jogo do Benfica. Mas tenho uma coisa para dizer que pode ser do interesse dos leitores, de um modo geral, ao contrário do que costuma acontecer por aqui, já que normalmente escrevo apenas o que me interessa, sem preocupações anexas. Falemos então de penalties.

Leio e ouço por aí que "o Benfica precisa de penalties para ganhar jogos". Vou focar-me no que importa: a questão está mal formulada. Concedo que aquele penalty contra a Académica tenha dado jeito para chegarmos aos 3 pontos; já contra o Beira-Mar, colocar os 3 pontos nos pés do Cardozo, numa grande penalidade batida aos 15 minutos parece-me exagerado (sem aquele penalty, poderiam ter acontecido muitíssimas coisas nos 75 minutos que faltavam, dentro de um espectro que vai da goleada do Benfica à goleada do Beira-Mar, não descurando a possibilidade de um empate a 7, por exemplo). Agora, o que me incomoda é o tom com que se expõe o assunto, com sublinhado maldoso: o Benfica "precisa".

Vejamos, o Benfica precisa tanto de oportunidades claras de golo quanto todas as outras equipas. Sendo o penalty uma oportunidade clara de golo, pode dizer-se que o Benfica não deve desdenhar da possibilidade de marcar de penalty - tal como não deve desdenhar da possibilidade de ter um guarda-redes que faz grandes defesas ou de possuir extremos que façam óptimos cruzamentos, por exemplo. A questão maior aqui é a seguinte: mas o Benfica tem ou não tem o mesmo direito que todas as outras equipas a que se assinalem penalties a seu favor em caso de falta defensiva na área adversária? Aparentemente, há quem conteste esse direito. Ou agora só se podem marcar penalties a favor do Benfica se esses penalties não fizerem falta a ninguém, independentemente de serem assinalados com justiça?

Seguindo este raciocínio, atrevo-me a especular na mesma medida: o Porto é que precisaria que não se marcassem penalties a favor do Benfica para poder estar em primeiro lugar. Assim é que a situação fica correctamente exposta.