quarta-feira, 9 de maio de 2012

Minis e jaquinzinhos

Está um perfeito dia de Verão. Na rua, ainda não se sente mas já se pressente o cheiro das sardinhas assadas. É uma espécie de odor espiritual que acompanha os dias magníficos deixando-se imaginar mesmo quando ainda não existe. O cheiro das sardinhas assadas acontece quando o Verão nasce, mesmo que ninguém asse sardinhas. É um perfume que pertence, que faz parte, como se os raios de sol fossem o carvão e o sal e o resto desta cidade fosse feita de pele e escamas finas.

Começava a preocupar-me. As finais europeias vinham aí, estavam mesmo a chegar, e não tínhamos Verão. Nem Verão nem outra estação qualquer. Este ano, ao nível da definição das estações, é como um Atlético de Madrid - Athletic Club, equipando ambas as equipas com as vestes principais. Que imagem bonita: o caos indistinto e uma bola aos saltos, 50 mil pessoas em Bucareste aos gritos sem saber para quem, 20 rapazes trajados de pijamas às riscas e uma taça no fim. Que delírio.

Os meus receios amainaram, o dia de Verão entusiasmou-me com uma lambidela serena quando, à hora do almoço, fui regar os piripiris e os coentros à varanda. Suspeito que criei, inadvertidamente, exemplares bonsai de ambas as espécies. Podem não dar para tempero, mas causam impressão. Às vezes, enquanto os rego, tenho medo de os afogar de tão pequeninos que são.

Lembro-me de, há um ano atrás, ter desejado que a relva de Dublin se transformasse em alcatrão fervilhante. Disparate meu, claro. Como em quase tudo, quase sempre, no que respeita a futebol, as minhas expectativas saíram defraudadas. Já nem perco tempo a puxar pelo que quer que seja. Foi, aliás, assim que consegui que o Sporting fosse eliminado da Liga Europa: simplesmente, ignorei a segunda mão da meia-final. Quando fui ver o resultado, lá estava ele, resplandecente: «Caíram de pé». Parabéns.

Para hoje peço pouco. Já tenho o sol e o Verão e o meu imaginário embebeda-se de aroma a sardinhas que ainda não existem. Estou a um pequeno passo de ser feliz. Venham os 20 rapazes dos pijamas às riscas numa encenação caótica e absurda do mais puro futebol – sem sentido, sem destino, só uma bola e muita anarquia. Uma travessa de jaquinzinhos e a frescura das minis.

4 comentários:

Hugo disse...

Hoje, o futebol é acessório...

Viva a mini fresquinha...

Viva o Verão!

Diego Armés disse...

Cuidado com a heresia, menino, cuidado com a heresia.

Vareta disse...

Por acaso é um 'pack' de que tenho saudades. Jaquinzinhos, mines, sardinhas, dias de verão em que o sol só se põe lá para as tantas... Enfim, uma pessoa adapta-se: kimchi, soju, pickles, dias de verão em que o sol se põe às 19h e já parece uma festa...

Diego Armés disse...

Posso sempre mandar uma encomenda especial para o meu amigo. E uma azeitoninha, não? Já que é para o luxo, não te acanhes e faz uma lista. O sol é que é mais complicado.