quinta-feira, 5 de maio de 2011

A amizade, o medo e o pé direito do Fábio Coentrão

Então, o Domingos tem amigos benfiquistas que querem que o Braga passe. É claro que isto me espanta. É toda uma conjugação improvável de factos, a começar por “o Domingos tem amigos”. A sequência surpreende ainda mais: “amigos benfiquistas”. Que puxem pelo Braga, entendo perfeitamente: tal como o Domingos, também eu tenho amigos; e, quando lhes mostro as minhas canções novas, todos eles dizem, invariavelmente, “u-hum… está muito fixe, Diego”.
A propósito, um amigo sportinguista que eu tenho… bom, um amigo que ainda contém um réstia do que resta do sportinguismo, para ser mais preciso, perguntava-me, emocionado de tanta inveja, “vocês não preferem ser já eliminados pelo Braga?”. Evidentemente, está habituado a outro tipo de mentalidades. Transparece. Respondi-lhe que, para grande infelicidade de alguns, a equipa do Benfica não era constituída por ratos; e, para grande surpresa de outros, a esmagadora maioria dos adeptos do Benfica são mesmo homens e mulheres dignos e honrados, com espírito de luta e que acreditam nos homens que os representam, lá em baixo, sobre a relva. Sim, queremos ganhar ao Braga. Mas essa pergunta põe-se? Não sei se será petulância ou apenas ingenuidade…
Isto leva-me a outra questão: era suposto estarmos com medo do Porto? Para começar, é engraçado que os que não se inibem de ter certezas quanto à falta de qualidade do Benfica sejam os mesmos que se arrogam a sugerir que o Benfica perca “de propósito” com o Braga para não ser humilhado, depois, pelo Porto. O Braga merece-me bastante mais respeito do que isso. Depois, o Porto ganhou ao Benfica várias vezes esta época, é verdade. Uma das vezes, por 5 a 0, também é verdade. Mais: ganhou sempre que o Benfica precisava de provar que era melhor – e esta é a outra verdade. Ora, desta vez, se o Benfica chegar à final, cabe ao Porto a obrigação de, depois de tanta garganta e apregoar de superioridade, esmagar o pequeno e frágil Benfica por, pelo menos, oito a zero. Meus amigos, com tanta supremacia e inquestionável valor e talento e garra e qualidades e brilho e já não tenho mais palavras, e perante um Benfica tísico, mais que acabado, com os pés para a cova, desmotivado, inapto, desorganizado e desmoralizado, menos que cinco a zero é uma humilhação para o próprio Porto. Portanto, convenhamos que as expectativas, à partida, as condicionantes morais a priori, são substancialmente diferentes de: uma Supertaça em que o Benfica era o campeão (e o Porto o acossado); uma primeira recepção do Porto (forte) ao campeão Benfica (fragilizado) a querer vingar a frustração da Supertaça; a obrigação de o Benfica (a tremer das pernas) impedir o Porto (ultra-moralizado) de se sagrar campeão no Estádio da Luz; o Benfica perante a iminência da catástrofe que seria o Porto, cheio de malícia, qualificar-se para a final do Jamor, depois de ter perdido por dois a zero no Dragão. Desta vez, se conseguirmos que “esta vez” aconteça (ainda falta aquele jogo, mais logo), as coisas vão ser diferentes: o Benfica será o underdog e o Porto é que terá tudo a perder. O jogo virou.
Por falar em logo à noite: já há algum tempo que não sonhava com jogos de bola. Normalmente, sonho com as finais da Taça da Liga (as únicas a que o Benfica tem ido). Este ano, nem isso. Porém, esta noite tive um sonho em que o Coentrão marcava de pé direito aos dois minutos de jogo. Foi muito claro o sonho.

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