Antes de analisar presidente, director desportivo, treinador ou jogadores - lá chegaremos -, comecemos pelo essencial: a ideologia. Sem isto, nada feito.
O Benfica, reconhecidamente o Maior Clube do Mundo, perdeu em todos os momentos-chave da época. Num deles, conseguiu a proeza de falhar (perdeu 1-2 em casa com o Schalke) e conseguir, ainda assim, ser repescado - o que lhe permitiu atingir o momento-chave de ontem. No qual voltou a falhar diante de uma equipa muitíssimo mais barata, com um treinador menos experiente, com muito menos adeptos e recheada de jogadores que mais ninguém de entre os "clubes grandes" quis.
Falhou na Taça de Portugal, quando tudo lhe era favorável, diante do Porto. O Porto está forte - forte como há muito não o via. Falhou no campeonato, diante do mesmo Porto. Falhou até na final da Taça da Liga onde, felizmente, o adversário não era o poderoso Porto, mas antes o esforçado Paços de Ferreira que, ainda assim, fez tremer os Benfiquistas (nunca me tinha acontecido: o árbitro apitou, a taça era nossa, e só me apetecia praguejar e insultar).
O Benfica é o maior clube do mundo há já muito tempo. Mas é muito mais maior do mundo desde que Luís Filipe Vieira se instalou no trono. A propaganda é importante e não me parece que estes pregões tragam mal ao mundo. O Porto é uma nação, o Benfica é o maior do mundo e por aí fora. Tudo isto é popular e ninguém pensa muito no que diz. O futebol é assim mesmo. Porém, convém pensar no que se exige e ter noção do que se é, realmente.
Há uma pergunta que costumo fazer, sobretudo quando vejo reacções como as dos adeptos de ontem: será saudável acharmos de nós mesmos que somos os melhores do mundo? Não me parece. Obriga-nos a ganhar tudo e sempre. Nestas circunstâncias, temos sempre algo a perder. Isto só pode ser prejudicial. Ter sempre algo a perder é um veneno - sobretudo quando não há arcaboiço para aguentar tamanha responsabilidade. O Maior do Mundo é uma medida descabida para um Benfica que, desde 1994 (inclusive), ganhou três campeonatos, duas taças de Portugal e três Taças da Liga e chegou duas vezes às meias-finais de uma competição europeia (e não se trata da Liga dos Campeões).
Esta exigência desmedida a priori não tem justificação. E, por mais que me doa pensar numa final 100% portuguesa em que o Benfica não participa, a verdade é que, no somatório das duas últimas épocas, o Benfica tem o seu melhor registo dos últimos 17 anos. E isto é factual.
Apesar desta derrota que me dá nós no estômago e uma profunda inveja pelas duas equipas que vão a Dublin, tenho de concluir que o Benfica vai no bom caminho. Depois de um colapso e de uma tormentosa travessia do deserto (sempre adorei esta metáfora), há que admitir que, para sermos realmente bons, só nos falta mesmo deixarmos de ter a mania que somos o maiores do mundo - até por uma questão de sanidade mental dos Benfiquistas.
2 comentários:
Será que vi mesmo no bom caminho? Gostaria ter a mesma confiança que tu. O ano passado foi excepção. Este foi um ano normal ... e entretanto a equipa campeão é no espaço de pouco tempo destruída totalmente e continuam-se a contratar resmas de jogadores. Nas modalidades houve uma melhoria por parte de quase todas é um facto, mas este ano houve o fantasma Porto em todas elas, e chegou-se aos momento decisivos e elas falharam (vamos ver as competições euopeias em hóquei e andebol e o campeonato em futsal e basquet)...
Quando penso naquele período entre 1995 e 2002 e comparo com este ano, só posso ficar feliz. Como disse lá em baixo, foi muita peseirada (e hei-de analisar o treinador e jogadores). Mas isso não invalida que haja crescimento. Falhar nos momentos-chave é fácil acontecer; e é muito mais fácil quando se é invariavelmente obrigado a ganhar. Falta ao Benfica aquele espaço e aquela paz que lhe permitam perder de vez em quando sem que a casa venha abaixo. No fundo, deixar de ser o melhor do mundo, só por um bocadinho, respirar como os clubes normais...
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