quarta-feira, 8 de maio de 2013

Terapia - sessão #1: a confissão

Todos temos o direito a estarmos apreensivos. Olhando sobretudo para o passado recente, facilmente constatamos que, na hora da verdade, a tradição de levar a melhor está mais do lado do Porto do que do nosso. Sinal disso, aliás, é o facto de podermos ter, a esta hora, o titulo no bolso e de, afinal, eu estar a escrever este texto em vez de estar numa esplanada qualquer a fazer coisas que me levassem de volta ao desemprego - conservando, porém, um enorme sorriso e muito pouca consciência (porque um homem não se deve acanhar quando a hora é de festa).

Mas não, não é isso que sucede e os foguetes que se lançaram com um destino muito certinho acabaram por perder-se no espaço hipotético que separava um cenário lógico e esperado de um outro que é a realidade do quotidiano Benfiquista: mesmo quando tudo corre imensamente bem, pode existir um momento em que uma pequenina coisa corre um bocadinho mal e isso, quando se tem um adversário como o é o Porto, pode ser - eu não disse «é», disse «pode ser» - suficiente para deitar a mais brilhante época de que tenho memória às malvas. Porque a verdade é esta: para a história ficará o nome do campeão e da colecção no museu só constará o troféu - o segundo classificado e o quase-troféu são coisas que não ostentamos no palmarés nem exibimos na vitrina.

Tenho várias confissões a fazer porque sinto que uma boa parte desta instabilidade anímica que o Benfica e os Benfiquistas vivem, hoje - e viveram ontem e viverão daqui até sábado -, se deve a culpas minhas. Antes de mais, porque aparei a barba no sábado. Foi um acto irreflectido e não devia ter deixado que esse detalhe de já não ver o meu lábio superior há quase quatro semanas interferisse com a missão que me foi encomendada: levar o Benfica à Glória, todos os dias e em todas as competições. Atenção: não quebrei a promessa, não tirei a barba - levarei o bigode que dela há-de sobrar ao Jamor, como aqui foi prometido, mais que uma vez, até. Mas permiti que um sportinguista agoirento me retocasse a pelagem ungida e logo durante a jornada futebolística. Mea culpa.

Outra confissão é, se não menos divina, no mínimo muito mais humana: tento encontrar - e encontro - razões intelectualmente válidas, logicamente substanciais e demonstradamente possíveis para acreditar que seremos campeões no Dragão. No entanto, quando penso no jogo, aperta-se-me o estômago. Daqui até sábado, das duas uma: ou recupero a fé ou desenvolvo uma úlcera. Ter dois pontos de vantagem, partilhar a pressão - todos temos muito a perder, de um lado e de outro (e também tudo a ganhar, de um lado e de outro...) -, jogar melhor futebol, ter mais golos marcados, não ter derrotas, andar optimista e sonhador, possuir uma equipa mais equilibrada: tudo isso me parece irrelevante quando penso «vamos ao Dragão e a eles basta-lhes ganhar».

Eu sei que o erro é meu e que tudo isto é uma grande mariquice, a roçar a cobardia. Eu sei que a minha atitude deveria ser outra, que devia fechar os olhos e fazer força e automaticamente acreditar que, sim senhor, vamos ganhar e resolve-se o assunto. Mas não consigo. Ainda não consigo. Encarem este desabafo como início de uma terapia de reconstrução da fé, já que esta sentiu um abalo de grau 6.5 na escala de Armés na segunda-feira. Tentarei chegar a sábado sem úlceras e sem medos. Dou a minha palavra.

3 comentários:

João disse...

Bem me parecia que eras um bocado responsável pelo empate com o Estoril.
Então mas vê lá se acreditas nesta série de acontecimentos improvável: o benfica perde no sábado, o porto fica com um ponto de vantagem, mas na jornada seguinte o porto empata com o paços e o benfas faz a festa na luz!!! E entretanto é claro que não tocas mais nessa penugem até se acabar a época.

O cusco de Esmoriz disse...

O Paços só poderá tramar o Porto se perder pontos com a Académica e não assegurar o 3º lugar... Caso contrário, são favas contadas.
O FCP, estando em vantagem, raramente falha nos momentos decisivos. A bem ou mal, eles não falham em Paços.
Deitamos tudo a perder com o Estoril.

Tolan disse...

O empate no estoril livrou-me da cobardia (sem ofensa, amigos!) de pensarmos que seríamos justos campeões por um ponto se saíssemos do dragão com uma derrota em cima. Campeões até podíamos ser e é verdade que daqui por uns anos o que fica é o título. Mas seríamos melhores que o FCP? Não.
E o cenário de perdermos? É mau, mas aí merecem ser campeões visto que nós na luz empatamos 2-2. O saldo de vitórias e derrotas entre benfica e porto nos últimos 10 anos é ridículo para nós, especialmente lá no dragão, comparado com o nosso na luz. Não podemos aspirar a ser campeões de forma consistente e esmagadora enquanto não quebrarmos a hegemonia do FCP, ainda por cima numa época em que claramente somos melhores do que eles. É que somos.

Estamos em "3 finais", uma delas da Liga Europa, não podemos avaliar isto só pelos 2 pontos de vantagem do campeonato. Somos líderes e mesmo assim jogamos na liga europa jogos muito exigentes do ponto de vista físico e mental.

Temos mais soluções e jogadores que podem resolver. Essa é a minha fonte do optimismo. Tem sido o segredo desta época, Não estamos dependentes da inspiração de um só jogador, como tem de acontecer em grandes equipas que fazem aquilo que o Benfica já fez.