sexta-feira, 10 de maio de 2013

Terapia - sessão #3: o choro merecido

Um amigo, que é de um Benfiquismo verdadeiro e muito sensível, escrevia hoje no seu perfil do facebook a propósito da elevada probabilidade de chegar ao fim do jogo de amanhã lavado em lágrimas, sejam elas de felicidade exuberante ou de frustrada e dolorosa tristeza. Sei de outros amigos predispostos ao mesmo tipo de final, feliz ou infeliz, mas seguramente lacrimoso. Eu não sei se já chorei com o Benfica, mas acho que não, nunca o fiz. Sei que já tive vontade - umas vezes, por indignação, outras por desilusão, outras ainda de felicidade. Ainda agora quase chorei no terceiro golo - gracias, Tacuara - contra o Fenerbahçe. Quase.

Mas não chorei contra o Steaua nem quando o Veloso falhou, não chorei quando o Vata pontapeou esquisito nem quando o Rijkaard marcou com facilidade, nem ainda quando o César Brito bisou ou quando fomos a Leverkusen fazer quatro e nem quando o João Pinto fez o mais memorável dos hat-tricks.

E também não chorei na miséria. Lembro-me vagamente de um jogo em que estávamos a perder por 3 ou 4 e o saudoso Enke repetia, enfastiado, o gesto de ir à baliza buscar a bola. Nada que vodka e uns comprimidos não tenham resolvido. Ainda hoje não sei qual foi o resultado. Também não chorei por ficar em sexto.

Mais tarde, voltei a não chorar quando ganhámos a Taça com um golo do Fyssas (!) ou, a seguir, quando acabámos com 11 anos de jejum, nem ainda quando o futebol furioso de 2009-2010 mostrou ao país o vigor de uma equipa a despertar.

O nosso regresso à Glória - o nosso regresso a casa - tem sido lento. E talvez por isso se adivinhe comovente. Recordo, a propósito, uma bonita passagem de um livro do Sepúlveda que me fez chorar. É uma passagem muito simples: o narrador - o próprio autor - chega a Espanha, onde nunca antes tinha estado, vindo do Chile, em busca de familiares que talvez ainda existam. Encontrando a casa de um casal de velhotes que pensa serem ainda seus parentes, apresenta-se e explica-se. O homem da casa, sem mais perguntas, grita então lá para dentro, com emoção, «Maria, traz o vinho... chegou família da América».

E agora estamos perto, muito perto de casa. E acredito que o choro que nunca me aconteceu possa rebentar amanhã como se me rebentassem as águas. Se ganharmos amanhã, lá estará o meu querido avô, onde quer que ele esteja, sentado no seu banquinho no pátio da casa e gritará lá para dentro «Adelina, traz o vinho... o Benfica chegou a casa».

6 comentários:

intomic disse...

Diego,

Só recentemente descobri o teu blog e posso dizer-te que é delicioso lê-lo. Os meus sinceros parabéns e FORÇA BENFICA.

E PLURIBUS UNUM disse...

Parabéns, mas prefiro:

" Adelina traz o Caneco, o CAMPEÃO voltou"

Força BENFICA

Rui disse...

Excelente. Esperemos, pois, pelo regresso a casa, do Benfica.

M disse...

chorei baba e ranho quando o Veloso falhou o penalty...foi a única vez..tenho cá para mim que um dia destes a coisa volta a descambar!

boa posta!

Lourenço Cordeiro disse...

Aquele golo do Kulkov. A única vez.

Gustavo Bastos disse...

Acordei às 6.45. Não consigo dormir. É hoje! Ou me sai o jackpot da felicidade ou volto à minha condição habitual de desiludido. Com a vida, com as pessoas e a acima de tudo, por ser o único responsável pela minha permanente desilusão comigo mesmo. Deus permita que pelo menos uma vez termine o dia com a sensação de ter feito a escolha certa quando há já 33 anos, contra toda a lógica e razão, entreguei a minha alma ao BENFICA, vivendo no Porto e sendo proveniente de uma família de portistas. Por favor SLB paga me hoje (só preciso que seja hoje) todas as tristezas frustrações e amarguras acumuladas por erro nas minhas escolhas. TU não me podes falhar! É a 1a vez que escrevo o que quer que seja e só o faço porque a grande qualidade deste BLOG que ainda não conhecia e me ajudou a combater a insónia assim o merece. Parabéns.e