segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Benfica vs. Rock

Há, infelizmente, muita coisa que é preciso afinar para garantir que o Benfica ganhe um jogo. Ter os jogadores certos, a equipa em boa forma, um adversário que nos seja acessível, o terreno de jogo em condições adequadas, uma arbitragem que nos seja pouco prejudicial, a táctica certa, o Cardozo com o pé quente, o Saviola com sorte, o Pablito em dia sim, uma defesa certinha, um Coentrão inspirado ou um público motivador são factores de enorme peso para que a nossa vitória seja obtida. Mas há um outro factor que é incontornável: a minha compatibilidade com o momento do jogo – ou seja, o grau de possibilidade de eu assistir à partida, concentrado: quanto maior o meu nível de “presença” atenta, maior a probabilidade de ganharmos de goleada; quanto menor a minha relação com o desafio, menor a probabilidade de vencermos. Isto é verídico e está comprovado cientificamente.
O bom adepto do futebol, com amor ao cachecol, à bandeira e aos jerseys que tem espalhados pelas várias divisões da casa em modo “decoração de bom gosto” (mentira: é tudo distribuído em função da nossa superstição), saberá que o que não falta por aí são motivos para incompatibilizar uma pessoa com o momento do jogo. Ele é a nossa miúda que é do Sporting, ou o jogo que calha a horas do trabalho, ou a televisão que se avaria, ou o metro que se atrasa e chegamos à Catedral 20 minutos depois do kick-off, ou vamos a um café que tem SportTV mas é de um tripeiro que prefere a SportTV2 porque está a dar o Real Madrid – Almería e ele gosta mais do Mourinho do que de saber ler, ou já tínhamos combinado jantar com a miúda, que é do Sporting, num sítio romântico e sem televisões e sem rede 93 e só sabemos do resultado quando vamos à casa-de-banho e perguntamos ao empregado de mesa “quanto está?” porque o encontramos “casualmente” no caminho. Ou quando vou ensaiar ou dar concertos. É que é limpinho. Se os deuses da bola andam com a neura, o melhor é eu deixar a guitarra arrumadinha à hora do Glorioso. Exemplos? Oh meus amigos, vamos isso: um showcase em Coimbra à hora do Vitória de Guimarães – Benfica; um ensaio à hora do Happoel Tel-Aviv – Benfica; outro concerto simultâneo com o Benfica – Schalke. Querem mais? E isto só esta época.
Sábado passado, fui ensaiar com uns amigos meus. Marcou-se o ensaio sem que eu tivesse olhado para o calendário da liga, mea culpa. Apercebi-me da gravidade da situação apenas na sexta-feira, quando já seria de mau tom desmarcar o ensaio com pessoal que, ainda por cima, se divide entre Sporting (baterista e guitarrista) e Porto (baixista), malta que ainda por cima sabe deste meu handicap cósmico-futebolístico e que se regozijou com a possibilidade de sermos travados pelo Nacional.
O ensaio estava marcado para as 22h00. O Benfica marcou o primeiro e eu animei-me. Enquanto eu estava à espera da boleia, o Sidnei fez 2 a 0. E fomos assim para intervalo. Era dez e pouco e o pessoal do estúdio não aparecia para nos abrir a porta e eu fazia figas “só mais um bocadinho, atrasem-se só mais um bocadinho...” na esperança de nos ver amealhar golos suficientes para precaver a cabazada que iríamos levar a partir do momento em que eu ligasse a guitarra ao amplificador. Abriram-nos a porta havia três a zero. Foi providencial aquele atraso…

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