Há muitos anos que o mundo não assistia a uma batalha deste calibre. Aliás, eu não me lembro de algum dia ter assistido a algo semelhante, embora na segunda metade dos anos 90 e no inícios dos 2000 tenhamos tido dois grandes monstros da história do futebol. Na altura, Ronaldo ‘o Fenómeno’ Nazário era uma força da natureza (quanto a mim, o melhor jogador desde Maradona) e Zidane era o cérebro perfeito, com a elegância dos maiores mestres (quanto a mim, e apesar de tudo, um furo abaixo do Fenómeno). Mas, na realidade, nunca houve uma disputa tête-a-tête pelo trono do futebol (até porque os pontos altos das respectivas carreiras não coincidem com precisão).
Porém, agora, sim. Estamos perante um duelo directo – que só não pode ser ombro com ombro para não prejudicar Cristiano Ronaldo, que teria de se ajoelhar e, com isso, perder velocidade.
Há argumentos e opiniões mais que suficientes para que se escolha Messi ou Cristiano como “o melhor do mundo”. Pessoalmente, tenho muitas dificuldades em escolher um (portuguesismos à parte). Se Messi é um diabrete brilhante, Cristiano é um demónio temível; se um finta como quem faz tricot, o outro deixa quatro para trás enquanto galga 30 metros de relvado; se um aparece em todo o lado, mesmo onde menos se espera, o outro é de todo o lado que marca, mesmo de onde não se imagina. Um tem um metro e 68 e marca golos de cabeça; o outro também os marca, graças ao seu metro e 85…. Enfim, podíamos continuar.
Em Espanha, e apesar do equilíbrio dos números da estatística, a balança pende para Messi. Aliado ao carisma de um perfil mais humilde do que o do rival (se bem que a história diz que os grandes grandes grandes jogadores nunca fizeram da humildade uma qualidade – Maradona, Pelé, Best, Beckenbauer, Platini, Romário, Zidane, Cruijff…), existe uma equipa onde se encaixa na perfeição e a qual abrilhanta com a sua quase divindade futebolística. Ronaldo, arrogante, numa equipa arrogante de um clube arrogante, bem pode fazer hat-tricks e golos a 40 metros da baliza: a simpatia cultiva-se e colhe-se.
Mas há um duelo que, tanto quanto me recordo, é inédito entre os dois: como símbolos da respectiva selecção. E, ainda que a feijões, o jogo de amanhã pode aquecer ainda mais este jogo cada vez mais individual que, creio eu, virá a ser o mais comentado e estudado das últimas e das próximas décadas.
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