Nestas coisas sou uma pessoa de rigor e não me lembro de ter, alguma vez, feito cedências. Houve uma ocasião em que fiquei confuso, há uns anos atrás, aquando de um jogo qualquer em Sevilha em que o Porto defrontou uma equipa às riscas verdes e eu “ó diabo, e agora?” mas depois percebi que afinal eram estrangeiros e gente boa, não era nada daquilo que eu pensava. De resto, sempre apoiei, serenamente e sem euforias, o adversário dos nossos adversários – inimigo do meu inimigo, meu amigo é.
Há, porém, situações de elevada complexidade. E não me refiro ao desejo perverso de ver o Sporting no City of Manchester, aceitando docilmente um seu empate a um golo com uma equipa de Varsóvia – já vimos, há dois textos atrás, que a crueldade é um dos motores da expressão do adepto, uma das essências da valorização de um objectivo que se atinge, portanto, um instinto natural e primordial do adepto do futebol. Não. Eu estou a falar de casos em que dou por mim moralmente agastado, convictamente hesitante. São casos em que, à partida, eu perderia, ganhasse quem ganhasse.
Tudo isto porque existem equipas de quem tenho, como dizê-lo sem ser ofensivo?... algum nojo. A mais antiga equipa desta estirpe é o PSV Eindhoven. Uns holandeses brutos e não particularmente leais ou talentosos que nos roubaram um título mais que merecido da maneira mais dolorosa que se possa imaginar: através da humilhação de pontapés da marca de grande penalidade. Nunca lhes perdoei e, o ano passado, numa época marcada por eventos trágicos, tive a grande consolação de vê-los humilhados e subjugados diante dos meus olhos. Mais de vinte anos depois, como que acertámos contas. Ainda assim, a cicatriz ficará porque aquela taça é irrecuperável – e era nossa, caramba! Era nossa!
Mas continuemos. Com o passar dos anos, outros emblemas se foram juntando a este PSV que ainda hoje trago espetado no coração. O Atlético de Madrid, por exemplo. Clube invejoso do gigante vizinho. Com mais imaginação do que provas dadas, com mais ambição do que pernas. Com um equipamento às risquinhas, feio que dói. Ironia das ironias: com tanto “Sporting” em Espanha, o único que faz jus ao nome havia de chamar-se “Atlético”. É nestes pequenos detalhes que a língua castelhana diverge da portuguesa.
Podia prolongar o texto, falar das Lázios, dos Besiktas, dos Zénits ou dos Lyons desta Europa. Mas depois acabaria por esquecer-me do motivo que me levou a escrever o texto, o que seria embaraçoso. Focar-me-ei no Sporting de Manchester. Uma vez mais, dou comigo num dilema: a sombra de um gigante – e dos vermelhos! – que veste de um azul entre o da Lázio e o do Belenenses, que é propriedade de um xeque bilionário e proprietário de Tévez e Balotelli, entre muitos outros jogadores cujo valor financeiro só pode ser justificado pelo mediatismo, pois a qualidade efectiva nunca ficou absolutamente provada… esta equipa defrontava o Porto.
A possibilidade, ainda que remota e nunca nem um poucochinho mais do que hipotética, de apoiar o Porto é para mim motivo de severa repugnância. A ideia surge-me na cabeça acompanhada da expressão «NÃO!», assim, simples e guinchada. Se a necessidade aguça o engenho do mais comum dos mortais, o que não fará a um Benfiquista em apuros? Faz milagres! Num gesto simples de pensamentos, estabeleci uma estratégia: fazer uma tabela de salvação dos desprezíveis. Como funciona? Coisa muito simples. Por exemplo, o City segue com 5 pontos positivos. Quando chegar aos 20, fica salvo. E tenho fé que se salva ainda no decorrer desta época…
1 comentário:
Benfiquista que é benfiquista, torce pelo inimigo do inimigo. O resto são cantigas.
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