quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

The Man Who Wasn’t There

Se os irmãos Coen percebessem alguma coisa de soccer, em vez de um barbeiro teriam escolhido um mau striker para escrever este filme – e até podiam deixar lá a Scarlett Johansson à mesma, se quisessem.
O ponta-de-lança tem, no futebol, desde sempre, a mais intangível e difícil de descrever das características fundamentais de um jogador. Não é fácil falar sobre ela. Trata-se de uma espécie de toque de Midas, que funde timing com perspicácia, decisão com inteligência, esperteza com precisão. No fundo, a qualidade que se pretende num matador é aquela que lhe permite o gesto fatal, o golpe que muda o jogo e que faz a história.
Há pontas-de-lança de vários estilos e para muitos gostos. Há-os mais participativos e lutadores, como Wayne Rooney, ou os mais furtivos e discretos, como Inzaghi. Há-os completos, como Henry ou Ronaldo Nazário, os toscos, como Crouch ou Cardozo. Pouco interventivos, como Jardel ou Van Nistelrooy, ou muito em jogo, como Larsson, Raúl ou o Grão-Mestre Bergkaamp. Os adjectivos que os descrevem importam pouco. Para além de empolgarem mais ou menos os adeptos, todos estes têm (ou tinham) em comum aquela tal coisa mística, o extraordinário poder de fazer o golo.
Sendo talvez impossível explicar esta inefável qualidade, torna-se, pelo contrário, muito fácil identificar a sua ausência. Um mau ponta-de-lança é, sempre, aquele homem que não está lá. É a primeira lei do futebol: para se fazer um golo, tem de se tocar na bola – e às vezes nem isso basta (atente-se no golo de Saviola – outro! -, que se desviou da bola rematada por Cardozo e…). Estar lá é imprescindível a um ponta-de-lança decente.
Ontem, no estádio, constatei definitivamente uma coisa sobre a qual ainda tinha dúvidas e secretas esperanças: Kardec não é um bom striker. Não houve um único lance em que tivesse estado oportunamente no lugar onde cai a bola, uma antecipação a um defesa, uma sorte num ressalto, uma oportunidade de recarga. Bem podia ser barbeiro.

5 comentários:

Ricardo disse...

Antes de mais, longa vida ao blogue!

Quanto ao Kardec, gostei muito dos primeiros jogos que fez quando o Cardozo estava lesionado: participativo, aparecia bem na área (a tal característica de que falas), bom cabeceador, procurava tabelar com os médios. Em suma, estava a crescer. Depois veio Cardozo e o homem foi para o banquinho, como é óbvio e justo. Agora, sempre que joga, parece perdido em campo. Mas acredito no valor do miúdo. Dá-lhe mais uns joguinhos.

Diego Armés disse...

Também eu vi qualidades no Kardec. Mas não consigo encontrar "aquela" característica - precisamente a que mais importa. Atenção que este texto não é um bota-abaixo ao homem. É apenas uma constatação da minha descrença, com a devida justificação.

Anónimo disse...

Não há paciência é para o teu amigo Menezes...

NT

Diego Armés disse...

É verdade que me tem desapontado um pouco. Parece-me que sofre do síndroma Pedro Barbosa: uns pés magníficos; uma preguiça estonteante...

Anónimo disse...

Preguiça mental. Eu já nem ligo muito à lentidão no movimento, eu desespero é que com as hesitações e a falta de ideias, o que o coloca a milhas do croissaints...

NT