Durante a tarde, a propósito de uma troca de piropos no facebooker, disse, por piada, que tinha saudades de ouvir o relato na telefonia. À noite, saí do trabalho quase em cima da hora do jogo e apanhei boleia de um amigo meu. Fomos ver o jogo à Típica de Alfama. Ligou o rádio na TSF, para irmos ouvindo o relato no caminho. Obviamente, pedi-lhe que mudasse para a Antena 1. “Ah, mas porquê?”. Simples: é a estação que melhor grita os golos do Benfica. Com alma, com gosto, com intensidade, com prazer. Mudou de posto, mas não me deu grande crédito. Seis minutos mais tarde, pôde comprovar com os próprios ouvidos aquilo que eu acabara de lhe dizer, graças a Coentrão. Não quero estar aqui a gabar-me, mas era capaz de jurar que esta alteração estratégica de posto pode ter tido algum peso no resultado.
À chegada à Típica, com a Nação sorridente a fumar cigarros à porta e o jogo a decorrer em sossego, lá estava um amigo portista (ao todo, entre as 60 ou 70 pessoas que por ali estiveram, contei três exemplares da espécie). Mal encarado. Desconfiado. Diria até um pouco conformado, como quem adivinhava o desfecho. Da vez anterior julgo que me deu azar ver a bola com ele. Não me lembro qual foi o resultado final, tenho uma vaga ideia de o jogo ter acontecido, mas é uma memória muito confusa…
Dois a zero. Javi Garcia faz golaço – e uma grande exibição, já agora. Não tive dúvidas de que estava ganho. E vi, mais tarde, o pé esquerdo do Helton evitar, não sem milagre, o tento da humilhação. Melhor assim, dá-lhes esperança.
O jogo terminou e eu fiquei muito contente por ter feito uma antevisão bastante rigorosa, recorrendo, pela primeira vez, ao uso da intuição, coisa que normalmente só as mulheres é que conseguem. Pode parecer um dom duvidoso, eu sei. Mas não deixo de ter um dom e, neste caso, deu-me bastante jeito.
Ao fim da noite, à hora da fome, comi uma salada de polvo com o tal amigo portista. Estava óptima. E não deixa de ter o seu quê de simbólico um Benfiquista comer um polvo precisamente na noite em que o Benfica mostra as quinas de campeão e silencia o adversário em pleno Porto. Sem espinhas, evidentemente. Porque é um molusco.
O empregado da casa, sportinguista puro, também sem espinha, portanto, dizia-me “vocês gostavam de ser como o Porto, mas o Porto está muito à frente”. Com calma, entre um copo de tinto e uma garfada, expliquei-lhe, por alto, o que é ser campeão de Portugal, quem é o detentor desse título e quem acabara de ganhar pujantemente a partida no Dragão. A resposta foi tão pronta quanto esperada “sou do Sporting porque nasci do Sporting… mas gostava de ser do Porto”. E então eu expliquei-lhe que não entendia onde se encontra a vantagem disso. Não é suficientemente mau ser-se do Sporting? É preciso torcer pelo adversário do Benfica? Para quê? Para perder ainda mais vezes?
3 comentários:
Excelente.
E, sim, aquele Pedro qualquer coisa (ou não é Pedro?) da Antena 1tem um Benfica, Benfica, Benfica que mais ninguém tem.
Gosto do simbolismo da salada de polvo depois do jogo. Mas por muito boa que essa salada seja, não há nada que se compare a assistir in loco à correria desenfreada do Caxineiro para os braços dos Benfiquistas.
Dá gosto ver o miúdo festejar assim. Se bem que, eu, no lugar dele, já nem dava grande importância a isso de marcar ali - é praticamente um dado adquirido, no caso dele.
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