Nestas alturas, sinto o apelo da mudança. Há qualquer coisa em mim que se insurge dizendo “eu não sou assim, não posso ser assim”, tentando provar-me que ainda me resta uma nesga de ambição e uma fatia de auto-estima. Nestas alturas, acho que Lisboa me gasta sem eu dar por isso e sem me dar grande coisa em troca. Pablo Aimar vai ter uma rua com o seu nome em Valência. E eu, vou ter o quê? O meu nome consegue, com algum esforço, constar da guest-list de certos concertos em Lisboa e é tudo. Concertos de amigos.
E então, imagino-me a chegar ao pé da Lady Verde e dizer «anda, vamos embora. Estou farto de estar aqui». Fazemos a trouxa, enchemos o carro até não caber mais um par de meias. E aí vamos nós, direitos ao Sul. Há lá sol e praias de águas tépidas, peixe fresco, marisco e muito silêncio, muito espaço e muito tempo. Podemos dormir a sesta todos os dias e olhar para os relógios sem receio, a degustar o tédio. Vamos para o Burgau. «Adeus Lisboa».
Imagino-me perfeitamente a sair do carro e a sentir o cheiro da maresia contemplando o meu novo mundo abraçado à Lady, com aquele ar de felicidade que os casais que atingem objectivos têm, aquele sorriso de “hu-hum… era mesmo isto… era precisamente mesmo isto… era isto mesmo, acho eu”. E eu a olhar em redor. Lentamente hesitando, lentamente mudando a expressão enquanto perscruto a paisagem, chegando ao ponto de insistir com o horizonte, dramaticamente implicando com ele.
«Espera… esqueci-me duma coisa» «ãh?» «vamos voltar para cima» «mas… o que foi?» «vamos»
«Diego!... o que é que se passa…?»
«a Luz, baby… a Luz…».
6 comentários:
Vocês são uns acomodados do caralho. Este homem presenteia-nos com pérolas dia sim dia sim e nem um agradecimento, nem um comentário, nem um "tá giro, sim senhora". Agora é assim, é? Vêm aqui, lambuzam-se e vão-se embora sem dizer ai.
Pó caralho para vocês todos.
Belo texto. Estás a concorrer aí com uns 10 para os melhores 15 posts do ano. Há tempo para mais.
Nem um "foda-se!" ._.
Bonito. Mas terá sido um sintoma da idade, o facto de a "fuga para o Sul" se fazer na forma burguesa de veículo automóvel próprio?
Foda-se, que texto filha da puta. (esta' melhor assim?)
Gosto de ver que o perfume do futebol de Aimar serve para inspirar textos igualmente perfumados dos melhores bloggers Benfiquistas que por ai' andam. Para quem esta' `a distancia e nem sempre consegue ver os jogos completos (por, sei la', serem a uma segunda-feira de manha), sempre e' uma compensacao que se aceita.
Abraco.
Penitencio-me de não ter comentado antes. E sei bem que o facto de só ler isto agora não é desculpa mínima para não haver um comentário meu, mesmo assim.
Com os meus estudos académicos a nível de computação, já era mais que altura de criar um script que me permitisse comentar automaticamente cada post aqui escrito mesmo que só o leia passados alguns dias.
Phôdasse, que texto! Mais um daqueles que... phôdasse!
Linda zona, a do Burgau e arredores.
Arrisco-me... mentira, não corro risco nenhum. Afirmo-o, pleno de convicção, de que ao meu Algarve só falta mesmo um Estádio da Luz onde pudéssemos ver o nosso Benfica ao vivo, de forma mais amiúde.
Quero uma Calle Pablo Dios Aimar aqui na minha aldeia!
Vá, e pode haver também uma Praceta Diego Armes. :)
À imagem do que sucede no seio da mãe natureza, nomeadamente entre o gado asinino, também eu careço de incentivo para produzir mais e melhor. Cada foda-se vosso é uma cenoura para mim - por pior que isto possa soar.
Uma nota acerca do meio de transporte para a viagem: não quis induzir-vos em erro, transporto-me como sempre me transportei, ora com uma imensa preguiça, ora à boleia de alguém. No caso, não sou eu o legítimo proprietário da viatura, sendo que nem estou habilitado a conduzi-la.
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