sábado, 19 de janeiro de 2013

Um mar de ilusões feito deserto

O Lima não consegue. O Lima teima em não conseguir e eu começo a perder a esperança. Começo a questionar o investimento de 5 milhões de euros num ponta-de-lança que não cumpre com a única exigência que estabeleci para ele. O futuro não se me afigura, aliás, risonho. Existe toda uma conjuntura a transfigurar-se sobre mim, preparando-se para contrariar qualquer desejo que eu formule.

Na quinta-feira, tinha o jogo começado às oito e meia, e eu, deviam ser umas nove, se tanto, já havia recebido quatro ou cinco SMS sobre o assunto: «hoje é que é», «desta é que o Lima te faz a vontade», «isto ainda vai é à manita». Fico feliz por constatar que há gente de crenças firmes que se agarra a uma ideia e deixa que a sua paixão a siga com a cegueira própria de quem não pode questionar, simplesmente porque tem fé e a fé lhe basta. Não me sinto só, o que me tranquiliza. Porém, o que me sossega é, ao mesmo o tempo, o que me desola: como, Lima, como é que tu podes desapontar tanta gente, semana após semana? Um mar de ilusões feito deserto, um oceano de vislumbres grandiosos, vasto mas antigo e agora Sahara de sonhos. O poker do Lima é cada vez mais um mito urbano.

E o Sporting? Num ápice, atinge a primeira metade da tabela e adianta-se seis pontos em relação ao Gil Vicente. Para cúmulo, o Beira-Mar sobe de forma e ameaça não integrar o grupo de aflitos quando se chegar à derradeira jornada em que recebe os aflitos de Lisboa. E eu? E os meus sonhos, ahn? E aquele plano do Marquês?

Eu, eu que não tiro a barba desde Fevereiro do ano passado! É quase um ano de restrições e cuidados. A minha mãe diz-me que pareço dez anos mais velho. Há quem evite sentar-se ao meu lado no metro. Em Setembro aparei-a no barbeiro, aqui por baixo de minha casa. Não falámos de futebol. Depois de a ter aparado, voltei a deixá-la crescer no registo selvagem que vinha alimentando até então. A minha sobrinha acha que pareço um homem das cavernas. Tudo o que quero extrair desta lenta e exigente composição capilar facial é um bigode imponente que possa levar ao Jamor, para ver o Benfica. E o Benfica vai-me dando razão e alento para o sacrifício. Mas e o Jamor? Quem me garante que é no Jamor que se joga? E se não for lá a final? Onde é que eu grelho as febras e as entremeadas? E se o meu bigode perder a razão de ser?

«Mas ainda tens o campeonato», dizem-me alguns, uns quantos, uns poucos. Pois tenho. Um campeonato disputado ombro-a-ombro com uma equipa recauchutada, remendada com Sporting - é bocadinhos de Sporting em toda a parte: no meio-campo, no ataque, no meio-campo de ataque. Só me falta que vão buscar o Labreca ao Olhanense e que contratem o Peseiro para eu abrir uma petição online a exigir a invalidação deste campeonato. É desumano. No início da época, eu não tinha esperanças mas nunca deixei de acreditar que valia a pena. Assim, tenho dúvidas. É tudo o que me resta. Parece que só andam aqui para me estragar as felicidades.

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