Ruben Amorim, convocado - surpreendentemente, digo eu - para a selecção nacional não perdeu tempo: chegado à concentração, decidiu mostrar urgentemente toda a sua felicidade por Paulo Bento "pensar diferente" de Jorge Jesus.
Tenho, no entanto, a dizer que me parece que estamos perante uma infeliz série de equívocos.
Para começar - esta é mais para o Ruben -, não me parece que Paulo Bento "pense diferente" de Jorge Jesus. A convocatória não justifica a afirmação (Jesus convoca-o com regularidade, para não dizer "todos os jogos" - não tenho a certeza que tenham sido todos). Se Jesus convoca Ruben e o deixa no banco, parece-me que estamos, então, perante um caso de grande semelhança filosófica entre o treinador do Benfica e o seleccionador nacional. A não ser que Bento me surpreenda ainda mais e dê a titularidade ao Ruben, coisa que duvido. Logo, o raciocínio de Amorim, que peca em vários aspectos, fá-lo, sobretudo, por ser pouco esclarecido e por partir de um pressuposto claramente distorcido, talvez fruto do entusiasmo de el portugués.
Depois há a interpretação das palavras e o contexto em que estão inseridas. Leitor: se tu, com esses dois pés esquerdos e essa barriguinha fosses chamado à selecção não ficarias feliz? Não sentirias alegria por Paulo Bento pensar diferente do resto do mundo, que nunca acreditou em ti, nem na escola primária quando eras o último a ser escolhido, que só deixaste de ir à baliza quando compraste a tua própria bola e as regras mudaram nesse dia? Eu ficaria. É natural e compreensível que o Ruben também fique. Ir à selecção é um motivo de orgulho para qualquer português - que não se chame Ricardo Carvalho, Tiago, Simão Sabrosa ou, quer-me parecer, Danny. Ruben Amorim não é diferente do português médio (até porque é o lugar dele): somos pateticamente patriotas, sobretudo com gestos e causas menores, e o Scolari bem pode confirmar o que digo. Logo, não tem mal o Ruben mostrar-se "feliz por Paulo Bento pensar diferente de Jesus" - embora esteja redondamente enganado, como demonstrei atrás.
Para terminar, queria condenar as reacções belicosas às afirmações de el portugués. Não me parece que seja justo - por mais que se esteja errado, como é o caso - que um jogador seja obrigado a constantemente comer e calar. Ele não disse que discordava de Jesus, expressou apenas agrado pela confiança de Paulo Bento. Parecendo que não, são coisas distintas. Podem dizer "ah, não... aquilo foi uma crítica implícita a Jesus". E eu posso dizer "estás mas é parvo... o rapaz está só um bocadinho eufórico". E ficamos nisto horas a fio se for preciso. Porém, e com muita pena minha, tenho de ir fazer o jantar. Portanto, ficamos por aqui.
2 comentários:
Concordo ctg... ele até se dá muito bem com Jesus.
Acho que foi uma frase infeliz para descrever a sua felicidade.
Eu acho é que se ele tivesse a boca chei a naquela altura não dizia disparates... Olha é isso, tivesse ido fazer o jantar como o Diego.
Uma pastazinha ou algo assim pró consistente para o impedir de abrir a boca e ir às conferências de imprensa com os neurónios em curto-circuito...
Enviar um comentário