quarta-feira, 11 de abril de 2012

Do relativismo e da limpeza de monumentos, entre outras coisas que já não cabem no título, que já vai longo, parece que nunca mais acaba

Regressei à realidade e admito que me está a custar. Não falo das dores naturais de uma derrota letal, a essas respondo com os calos e cicatrizes de quem viveu de 1995 a 2004 e viu Paulo Madeira fazer dupla titular com Ronaldo numa equipa sem lesões nem castigos. Custa-me, sobretudo, constatar que o que escrevo, o que penso ou o que sinto são partículas irrelevantes de uma existência sem grande significado. Enquanto eu penso o futebol e o Benfica, José António Saraiva estabelece uma lógica intrincada que liga, num só texto, Fidel Castro, Durão Barroso, niilismo e um adolescente vestido com roupas pretas num elevador da Fnac, sem dúvida rebeldemente homossexual. É pena que Saraiva não tenha conseguido identificar o clube por que torcia o jovem que tanto o impressionou – talvez não tenha olhado para o modo como flectia (ou não) os joelhos. Fica a sugestão, porque agora fiquei curioso.

Eduardo Barroso – outro génio capaz das mais improváveis e impensáveis teorias, embora muito mais cobarde no que respeita a revelá-las ao mundo (sobretudo se envolverem clubes cujo nome começa por Futebol Clube do Porto) – exige, com um peito inchado e a voz subitamente grossa, “respeito!”, porque o Sporting “vem aí!” e é, ao que parece, a melhor equipa daqui e dos arredores daqui e devia estar a lutar pelos primeiros lugares porque… enfim, porque ganhou – um a zero e de penalty – ao Benfica, deduzo eu. Não é disparatado e é até bonito saber que Barroso tem o Benfica em tão alta conta. E o Vitória de Guimarães até é capaz de apoiar a ideia. Porém, o que mais impressiona em todo o texto, é o tom de José Castelo Branco arreliadíssimo com que a prosa flui.

A importância que as coisas assumem, esse relativismo tão humano e tão pequeno, anda, ao que parece, liberalizada. A bitola sempre falível do bom senso baralhou-se, quer-me parecer. Ou isso, ou as criaturas de verde que estavam empoleiradas na estátua do Marquês eram empregados da Câmara a proceder à limpeza do monumento. Se não for esse o caso, não digo que sejam ridículos – embora pudesse legitimamente fazê-lo. Ou, melhor, não confirmo nem desminto que o sejam e não aprofundo o assunto.

Sábado disputa-se mais uma final da Taça da Liga e lá vai o Benfica a Coimbra fazer o frete de participar na festa do Gil Vicente – não estou a ser irónico, o que leio aponta invariavelmente nesse sentido e, a verdade mesmo, é que eu próprio continuo indeciso entre as duas humilhações: ganhar a Taça? Perder a Taça? A propósito, no outro dia pensei na quantidade de finais da Taça da Liga que o Benfica disputou e na quantidade de finais de competições a sério a que o Benfica invariavelmente não chegou. E tenho uma pequena e, talvez, engraçada teoria, uma coisa muito simples, quase um trocadilho: há quem defenda que, «numa final, tudo pode acontecer»; José Mourinho discorda: «as finais não se jogam, ganham-se»; Jorge Jesus é mais pragmático: «as finais não se jogam». Ponto.

2 comentários:

Hugo disse...

Soberbo, como sempre!

Semana triste e, em certa medida, humilhante, por saber que mais uma época se vai...

E ainda temos que gramar com uma transmissão da SIC no sábado a querer fazer do jogo da Taça da carica uma grande prova...

De qualquer forma, mesmo ganhando, ainda há momentos em que o clube do musgo nos faz rir...

Até estou a a imaginar o Barroso com aqueles ares de lagarto inchado (mais do que o normal) com a prosa que tu referes...

POC disse...

"Jorge Jesus é mais pragmático: «as finais não se jogam»."

@Diego Armés: GOLD