Há, felizmente, muita gente que pensa bem e que fala bem e que é séria e que executa a função crítica com o rigor e o Benfiquismo que se pretende. Eu sou, por norma, um tipo mais calado. Gosto de ler e observar, pensar sobre o assunto. Esta é, claro, uma posição de enorme conforto. Quem não contesta, não se põe a jeito. Mas não é pelo conforto da situação que o faço, acreditem que isto é mesmo feitio: gosto de deixar as pessoas trabalhar, de um modo geral, sem me intrometer. O que não significa que não tire as minhas notas.
Porém, e por uma questão de respeito a todos os que na hora das vitórias mantiveram o espírito crítico, zelando pelo interesse maior do Benfica, e igualmente por respeito àqueles que não critiquei quando havia tempo para emendar o que estava errado, vou manter-me sossegado, em vez de alinhar na campanha de incêndios que, parece-me, já começou um pouco por toda a parte. Até porque não creio que seja com motins que a coisa vá ao sítio – a história tem vários exemplos que ilustram bem o quão perigoso é mudar as coisas com raiva e pelos motivos errados, em vez de o fazer serenamente e com uma estratégia.
Acontece que já falei aqui sobre Jorge Jesus e pus em causa a sua continuidade no Benfica. E agora devo uma explicação, uma boa explicação, tanto a quem me lê como ao próprio Jorge Jesus, que é provável que não me leia, mas enfim, somos pessoas educadas e eu tenho consideração por ele.
Eu acho que é perigoso Jorge Jesus continuar na equipa por uma série de razões, mas vou focar-me em apenas uma que é, quanto a mim, a mais perigosa de todas: a “perda” da equipa. Não estão em causa o valor do treinador, as suas ideias, as suas qualidades ou os seus defeitos. Simplesmente, sinto que Jesus perdeu a equipa. As declarações de Maxi Pereira no final do jogo contra o Olhanense são sintomáticas: eles, os pilares da equipa, estão gastos – estão cansados de ganhar poucos títulos e estão frustrados por este título lhes ter escorregado por entre os dedos: era um campeonato fácil, convenhamos; há dois meses atrás, não me passava pela cabeça não ser campeão.
Esta frustração causa, em jogadores “da casa” que são ambiciosos, revolta, de alguma forma. Eu, ingenuamente ou não, acredito que estes jogadores (Maxi, Lusião, Aimar, Javi, entre outros) querem tanto ganhar jogos e troféus quanto eu quero. E isto, acreditem, é dizer muito porque, por mim, começávamos numa ponta e acabávamos na outra, não deixávamos uma só derrota, um só empate para trás, era tudo corrido a vitória – e das pesadas, de preferência. Uma época com campeonato, Champions e Taça de Portugal seria “uma boa época” (mas ainda ficaria a faltar a Taça da Liga…).
Estes jogadores são, na minha perspectiva, o argumento mais forte que o Benfica tem para os próximos tempos. São eles a estrutura da equipa e é com eles que temos de contar para integrar novos elementos no plantel, por um lado, e para solidificar um certo espírito Benfiquista que se perdeu na tragédia dos anos 90, por outro. O Benfica precisa deles. O Benfica precisa de constituir família e são estes jogadores quem o pode fazer. Temos de deixar heranças no balneário e no relvado, temos de acrescentar caras novas à iconografia do clube. Estes jogadores são a nossa força e o renascimento de uma equipa que é também uma família, como o foi nos anos 60 e 70.
Acontece que, olhando de fora e correndo o risco de estar completamente errado, este núcleo duro parece desmoralizado, desgastado e, no fim das contas, desiludido. E não há pior para um líder do que a desilusão do grupo que dirige.
Que fique claro que reconheço a Jorge Jesus todas as qualidades que sempre lhe reconheci (sobretudo, estou-lhe grato pelos inúmeros momentos de excelentíssimo futebol com que me presenteou, a um nível absolutamente de topo). De resto, não defendo que «Jesus tem de sair», sequer. Só acho que é muito arriscado para ambas as partes tentar uma reconciliação. Sobretudo quando, de cada vez que tomamos uma opção errada, o Porto fica um campeonato mais perto. Em Maio, ficarão a apenas seis. E eu, egoistamente, preferia que em 2013 eles voltassem a ficar a sete, em vez de passarem a estar a cinco.
16 comentários:
És um cavalheiro e invejo-te por isso. Eu, que sou um bruto, quero mesmo Jorge Jesus porta fora o quanto antes.
Abraço
O meu comentário anterior pode dar a ideia de que para mim Jorge Jesus é o principal responsável pelo momento actual do Benfica. Não o é, longe disso. Mas faz parte do problema.
@JC, estou nessa.
Diego,
Já o disse (nem sei se não foi aqui) e volto a repetir: é para mim bastante triste ter que admitir que o melhor treinador do SLB dos ultimos 15/20 anos não tem condições para continuar no SLB. E causa-me preocupação como o SLB consegue dar 20 voltas ao mundo e acaba smepre por parar no mesmo sitio.
Abraço
O loserismo criou-se no topo. É pelo topo que se de deve começar a limpeza. Limpeza essa que já vem atrasada.
As declarações do Maxi em Olhão são um sinal de frustração, mas não são 'contra' o treinador, bem pelo contrário...
Continuamos a cair sempre na mesma 'armadilha': podem virar o Benfica do avesso, podem até substituir a Águia Vitória, mas enquanto os 'filhos', 'enteados' e 'netos', do Apito Dourado continuarem a pastar no Futebolês, com alguma sorte vamos ganhar 1 Campeonato de 5 em 5 anos... e o resto é conversa fiada...
Abraços
Olha que nunca tinha parado para pensar por esse ponto de vista. Tudo isso porque, no que toca ao Benfica, raramente consigo pensar com a razão, e lá vou eu pelo amor à camisola.
Muito bem esgalhado.
Fui dos que aplaudi a entrada de JJ quando todos falavam na playstation... hoje deixei de o querer a treinar o Benfica... este homem é perigoso... e só vou falar em Peixoto, Roberto, Emerson (Capdevilla) e... Urreta... e Amorim... e Enzo... e Saviola (será que o seu mau rendimento tem a ver com desilusão?)...
Nunca nos últimos 30 anos de história do nosso clube, a que eu recordo na 1ª pessoa, foi tão difícil ver o caminho futuro e dizer inequivocamente quem é o problema e quem se afigura como a solução.
Tolan, não deixes que o autor te censure, pá...
Pelo sim, pelo não, fica o esclarecimento adicional (ou um reforço da ideia do texto): não estou a identificar culpados; estou a apontar um problema futuro: se Jesus ficar, não terá o núcleo duro da equipa com ele e isso, sim, será trágico.
Há outra questão interessante: quem poderia suceder a Jesus e fazer render esta magnífica equipa? A acontecer, também não será uma substituição fácil (e é bom que não apresentem soluções improvisadas, há que pensar bem o assunto; se me aparecem com Domingos Paciência ou algo do género, vamos ter bronca).
Também me parece que o Jesus será apenas uma parte do problema. E eu quero também ser egoísta, pois já há muitos anos que nos vejo a ser beneméritos.
O Jorge Jesus poderia devidamente apoiado e controlado ser parte da solução.
O problema (gravíssimo!) está e vem de quem lhe está acima ... !
E nem só do 'sacrificado' rapazinho das Furnas.
Se o desfecho for o que se adivinha (não se pode pôr a reeleição em perigo ...!) gostava de ver Fernando Santos de regresso.
Quanto a alternativas -- Preud'homme, Fernando Santos, Guardiola (he he he he he he... brinquemos um coche...), o Peseiro se tiver um presidente forte e uma estrutura coesa (sabe da poda...)... um tipo corajoso, humilde e que não seja sportinguista ou portista!
Fernando Santos nunca deveria ter saído... o responsável da depressão do técnico (porque foi disso que se tratou - o técnico deixou de acreditar no plantel) foram as saídas de Manuel Fernandes e Simão naquele timing!!!!
Diego,
Não há muito tempo, defendi esta opinião no Céu Encarnado.
Quando estávamos com 5 pts de vantagem sobre os corruptores, tive a opinião de que este, deveria ser o último ano do JJ, pois era o fim de um ciclo.
Ou seja, ao fim de 3 épocas, seriamos 2 vezes campeões( apesar do percurso humilhante na Champions do ano passado), acabámos por fazer 3 campanhas Europeias consecutivas, como há muito não faziamos e vou ficar por aqui nos prós do JJ, pois mesmo quem está farto dele os sabe evidenciar...
Como dizia, findo o ciclo JJ, pensava que deveriamos contratar um técnico mais cinico ou pragmático, para com esta qualidade de plantel voltarmos a ganhar a hegemonia do futebol em Portugal.
Mas a partir do jogo com o nacional em casa comecei a mudar de opinião...
Apesar de termos tido uma quebra no rendimento da equipa, as arbitragens que consecutivamente nos sairam na rifa foram absolutamente vergonhosas!!!
Tenho 34 anos, e o melhor futebol que me lembro do Benfica praticar foi o do JJ do 1º ano, que mesmo assim, só nos deu o titulo à rasquinha na última jornada...
Para sermos campeões, temos de ser MUITO, mas MUITO MELHORES que aos adversários, só com um futebol com "modo Rolo Compressor On", em que mesmo que assinalem mal o fora-de-jogo, ou não marquem o penalty( e se tivemos casos desses no 1º ano do JJ...), não importa! vamos para cima deles e até os comemos CARAL@##!!!
Por isso, em termos de treinador, ou o JJ ou alguém com a mesma filosofia, por exemplo, o Co Adriaanse que celindrou a maioria das equipas da liga e não ganhou um jogo Grande salvo erro...
Agora, pelo exposto, não me parece que o problema esteja no Treinador, e sinceramente, apesar das inumeras criticas ainda não vi ninguem apresentar estratégias diferentes da do Presidente que sejam exequiveis...
Enquanto não atacarmos o polvo onde doi(na carteira) continuaremos a ganhar um campeonato de 5 em 5 anos.
Abraço
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