Não vou estar com hipocrisias - rivalidades são rivalidades e as picardias desempenham no futebol a função do caldo Knorr de galinha na canja da mesma ou a da caneca de sumo de laranja a seguir ao copo do Efferalgan (perdoem as analogias, o meu universo tem sido bastante limitado): dão-nos uma certa alegria, apesar de tudo. Acredito que a saúde dos espíritos desportivo e competitivo não passa pela diplomacia excessiva ou pelos tiques de nobreza, mas antes pela frontalidade e pela franqueza com que se enfrentam lealmente "os adversários". No fundo, não acredito que um futebol delicodoce seja melhor do que um futebol sem salamaleques. Também eu sou capaz de sorrir se o CSKA for ao Dragão dar três e ainda acrescento "só se perderam as que bateram no poste..." - sim, eu gosto muito de rankings da UEFA, são giríssimos, mas a vida é feita de prioridades. Quando o Sporting foi eliminado pelo Rangers, excepcionalmente saiu-me apenas um "bolas... não há nada que não lhes aconteça". Mas não deixei de esboçar aquele sorriso de "temos muita pena, realmente".
Vem isto a propósito de um fenómeno que prospera e que tanto me intriga. Por vezes, em certos estádios, ouve-se o speaker referir-se à equipa visitante como "o adversário" (na Choupana, na visita recente do Sporting à Madeira, usou-se a versão alternativa, a imaginativa designação "equipa visitante"). Caramba, então "o adversário" não tem nome? Ou nem sequer sabem contra quem é que jogam? Da última vez que isto aconteceu foi em Braga e "o adversário" foi o Benfica. Por acaso estranhei que não tivessem conseguido identificar o nome da equipa campeã nacional, mas o futebol é recheado de coisas difíceis de explicar.
Não quero que me confundam ou me interpretem mal. Não estou à espera que os adversários gostem imensamente do Benfica, que sejam super-simpáticos com o Benfica, que usem paninhos quentes com o Benfica ou que apoiem o Benfica contra o seu próprio clube (N. do A.: se bem que já reviam o criativo cântico do filhos da puta SLB filhos da puta SLB de cada vez que marcam um golo - é só uma opinião). É uma questão de educação. As pessoas têm nome, as equipas têm nome, as terras têm nome. E saber receber - quer se trate de um adversário ou de um aliado, como por vezes ocorre - não fica mal, a ninguém.
O que mais me impressiona é que a moda seja submissa e tristemente importada do Estádio do Dragão, onde o estatuto de "adversário" que o Benfica tem é já tradicional. Não sei se a intenção original do Porto era simplesmente ser indelicado para com o Benfica e magoar os nossos sentimentos ou se, pelo contrário, deveríamos sentir-nos lisonjeados por sermos "O adversário" - contudo, declinamos o honroso estatuto, pois acreditamos que, num mundo normal, "o adversário do Porto" só pode referir-se a uma equipa da PJ ou a um colectivo de juízes.
4 comentários:
Tudo dito, e ainda com direito ao melhor final de post dos últimos tempos.
Já agora, e para não andar a espalhar comentários pelos posts todos: se fizeres promessas para este ano avisa, que é para te podermos ajudar a não cair na tentação da racionalidade outra vez.
descobri este blog através do tolan e estou a ADORAR! :)
Estragam-me com mimos...
Vês Diego? Já te arranjei uma Maria! Um blogue do Benfica sem uma Maria não é blogue do Benfica!
epá, chorei a rir com o final do post :)))
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