quinta-feira, 10 de março de 2011

"Racionalidade" é uma palavra que devia ser impronunciável na minha boca

Um homem não deve negar a sua natureza. Ser Benfiquista ensina-nos isso mesmo. Dá-nos até provas concretas de que renegar a massa de que se é feito quase nunca é uma boa ideia.
Por natureza, o Benfiquista é - e os nossos adversários não se cansam de o repetir sob as mais diversas formas - um ser irracional, muito pouco dado a assuntos como a lógica, no que respeita a argumentos, ou como a ciência, no que toca a explicar fenómenos um pouco mais esquisitos. Um Benfiquista-nato sabe perfeitamente que se um remate do Cardozo vai ao poste, tal evento nada tem que ver com física: é um "azar do c#"$#%&, pá!". Se o Aimar faz uma distensão muscular, isso não se deverá à carga de esforço, mas antes a qualquer coisa que "'tava-se mesmo a ver, f#%$-#&, isto andava a correr bem demais...". Se a equipa anda em baixo de forma e precisa de recuperar, há poucas coisas mais eficazes do que um ritual pagão que comece por volta das seis e meia da manhã com cinco amigos e duas grades de minis (mini é Sagres), voltados para o mar de Ribeira d'Ilhas, à espera que o deus sol nasça das águas para que lhe façamos súplicas futebolísticas. E se o sol teima em nascer de Oriente em vez do tão bem programado Ocidente, é porque "f&%$-#%, este ano nada nos corre bem". Não que eu alguma vez tenha feito isso. Contaram-me.
Há uns meses atrás, andava eu a contar jogos para o fim do campeonato, prometi cientificamente que "se o Benfica fosse campeão, rapava o cabelo". E o Benfica foi campeão. E eu não rapei o cabelo. Pensei "opá, crendices... vamos lá ser racionais, quer dizer... que relação pode ter o meu corte de cabelo com a qualidade de passe do Javi Garcia, o poder de antecipação do Luisão, a segurança do Roberto ou a velocidade do Gaitán?". Certo é que perdemos todos os jogos até eu ter feito o corte prometido, incluindo a Supertaça. Acabei por cortar o cabelo com três meses de atraso (foi no fim de Agosto). E o Benfica não começou logo a jogar maravilhas e a ganhar absurdamente. Lembram-se de quando é que o Benfica começou a jogar "à Benfica" e a ganhar como se não houvesse amanhã? Pois é, no fim de Novembro. Ou seja, três meses depois de eu ter cumprido a minha parte do acordo, portanto. Podem dizer-me que é coincidência. Mas não deixa de ser uma coincidência do camandro.
Sexta-feira que passou, tive uma recaída. Num ataque de desbenfiquismo, dei comigo a ser racional. Pus-me a fazer contas e a ser matematicamente coerente, a fazer planos para o futuro, a ter cautelas. Desisti do campeonato que, então, muito ingenuamente, julguei perdido; pedi ao Jesus para fazer rodar jogadores e para poupar outros, que pareciam cansados - como se um jogador do Benfica algum dia se cansasse! Resultado: um fim-de-semana a chocá-la até que, segunda-feira, na ressaca da derrota, a gripe deu cabo de mim. Coincidência uma ova! A racionalidade deu-me cabo das auto-defesas, atenção. O organismo não tem rotinas neste tipo de exercícios. Evidentemente, ressenti-me. Cheguei a ter mais de 38ºC, eu que tenho uma temperatura-base de 35,5ºC. Andei praticamente em delírio. E acredito piamente que foi a mãe natureza a explicar-me que aplicar fórmulas civilizacionais ao Benfiquismo é, por si, uma maneira delirante de estar na vida.
Agora que me recupero e quase respiro saúde com os meus modestos 36,6ºC, começo a cair em mim. Sobre o jogo de logo, não há muito a dizer. Vamos ganhar seis a zero e arrancar para a conquista da euroliga! Pressinto-o perfeitamente.

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