Todos os anos, antes de todos os derbys, são vários os que escrevem ou apregoam que “ganha quem está pior”. Tal não corresponde, evidentemente, à verdade. Aconteceu umas quantas vezes, pontualmente (ok, não tão “pontualmente” quanto as vezes em que o Benfica foi eliminado da Taça de Portugal por uma equipa da segunda; nem tão pontualmente quanto as ocasiões em que o Benfica foi ganhar a Anfield Road – o que é normal, já que o Benfica defronta muito mais vezes o Sporting do que o Liverpool ou o Gondomar; mas, ainda assim, está longe de ser acontecimento recorrente ou minimamente frequente) dizia eu que aconteceu “pontualmente” a equipa underdog bater o rival que vai na crista da onda.
Vamos a exemplos. O campeonato do Benfica, em 2005, ganho contra um Sporting que poderia ter feito história (e que a fez, na verdade, ao perder tudo quanto podia) quando – reparem no detalhe – o Simão era, de longe, o melhor jogador do Benfica (não sei se ria, se chore). Em 2000, os sportinguistas chegaram a Alvalade munidos de garrafas de champanhe e de confétis e o Benfica, conhecido durante a semana anterior à partida como “os cabeçudos”, esse pobre Benfica que se arrastava pela lama, acreditou em Sabry, um egípcio magrinho comprado na Grécia que iluminou as verdes hostes: explicando, primeiro, como se marcava um livre directo (André Cruz terá tirado notas); e indicando, com o mesmo pontapé, um possível destino para as garrafas que sossegavam nas mochilas. Em 1994, quando o Benfica tinha um presidente à Sporting (Jorge de Brito, que descanse em paz) e o Sporting tinha um presidente esquisito e conseguiu roubar ao Benfica, no defeso de ‘93, todas as jóias da coroa deixando-nos apenas o ceptro, João Pinto foi a Alvalade, com Isaías e Vítor Paneira, embalar O Grande para aquele que seria o último título de campeão nacional benfiquista no espaço de 11 anos: ficou 6 a 3 para o Benfica quando havia quem previsse goleada do Sporting, antes de as equipas subirem ao relvado (na altura, ainda não se conhecia Carlos Queiroz com grande detalhe). Mas também o Sporting ganhou enquanto underdog, não se pense que era exclusivo benfiquista. Em 1986-87, o Benfica foi a Alvalade perder por 2 a 1 ao intervalo, num ano em que foi campeão com 14 pontos de avanço sobre o rival e num campeonato em que essa mesma derrota foi A ÚNICA que sofreu em toda a prova. De notar que, nesse ano, e apesar de o Benfica ser favorito, o Sporting tinha, entre outros, Manuel Fernandes (não é o do Valência, é o que era do Setúbal), quando este ainda não era treinador, o que faz a sua diferença.
Estes são alguns exemplos – haverá mais – que podem justificar a existência desse mito que diz que “ganha quem está pior”. Ontem, na Luz, um Benfica com 17 vitórias consecutivas recebeu um Sporting que vinha de 7 jogos sem ganhar. Ganhou o Benfica. Foi o sétimo derby consecutivo em que o Sporting não ganha, numa era em que a superioridade benfiquista a priori não tem merecido contestação. Dará para acabar com o mito?
2 comentários:
gostei do 2-1 ao intervalo. :)
mas não me importei mesmo nada que esse resultado fosse no meu aniversário, quando ganhamos o campeonato nesse ano.
É um mito estúpido. Não pelo mito mas pena forma como as pessoas dizem isto sem sequer pensar ou, vá, ter memória (mas isso atribuo a fumar muita ganza o que é desculpável).
Normalmente ganha quem está melhor.
Na época passada e nesta, em 6 jogos, 5 vitórias do Benfica e um empate. É capaz de chegar.
Enviar um comentário