G.K. Chesterton, n' O Homem Que Era Quinta-feira, aludia às inúmeras possibilidades que existem no decorrer de uma viagem de metro, desde que se entra na carruagem até que se sai dela: apesar de tomarmos como certo e seguro que, entrando em Santa Apolónia, sairemos no Alto dos Moinhos a tempo de tomar uma cerveja, fumar um cigarro e dar dois dedos de conversa antes de entrarmos no Estádio, existe, na verdade, uma série praticamente infinita de outras possibilidades plausíveis que nunca levamos em consideração. Por exemplo, um amigo ligar-nos a dizer que "epá olha, estou no Colombo", altera o plano inicial: não saímos no Alto dos Moinhos, afinal; saímos na estação seguinte. Se quisermos um exemplo mais dramático, uma falha de electricidade pode fazer com que o comboio pare entre São Sebastião e a Praça de Espanha, o que fará com que nos atrasemos uns bons 40 minutos. No capítulo da tragédia mais à séria, tenhamos sempre presente o dia 1 de Novembro de 1755 e a possibilidade permanente de se ter que adiar um jogo por falta de Estádio. Há, portanto, todo um universo complexo por acontecer de cada vez que sucede precisamente o evento esperado, eliminando todas as outras possibilidades. Rejubilemos, então, de cada vez que esse evento corresponde à nossa expectativa, valorizemos o cumprimento de cada pequeno plano.
Edward Murphy, mais radical, declarou, peremptória mas não originalmente, que "o que pode correr mal, acaba, eventualmente, por correr mal". Não existe concordância entre as mensagens de Chesterton e de Murphy, mas existe complementaridade. O que o primeiro encara como possibilidade, o segundo sublinha como fatalidade - "pode não ser hoje, mas um dia..." Todos sabemos que, mais cedo ou mais tarde, o Adalberto Gilberto Norberto Roberto nos vai ligar a dizer que passou primeiro no Colombo.
Hoje, desde que acordei - e eu acordei cinco pontos mais cedo do que todos os portistas -, tenho tido estes pensamentos, estes nomes, Chesterton e Murphy, Murphy e Chesterton, a possibilidade e a fatalidade, coisas indistintas e sem forma, como visões sem rumo, a pairar-me sobre as ideias, dentro das ideias, antes e depois das ideias. Preocupado como sou, preocupei-me com naturalidade: "queres ver, Diego, que é um sinal de maldição e a gente ainda perde isto?".
Acontece que em matéria de futurologia e de superstição sou um tipo bastante científico. E então dei por mim a interpretar metodicamente estas mensagens encriptadas que o subconsciente, bem mais perspicaz do que eu próprio, me foi enviando. A verdade, supondo que só existe uma, é que a minha preocupação era umbiguista, diegocêntrica.
Eis que, com o decorrer das horas e após a ingestão de dois cafés, abri a mente: Chesterton e Murphy, Murphy e Chesterton, na minha cabeça, falavam afinal do Porto - mas com John Mortimore.
4 comentários:
Li O Homem que era 5ª feira no FMM em Sines e na minha memória o livro era mais surrealista do que as bebedeiras todas que apanhei, portanto não me lembro muito bem do livro (excepto dalgumas partes que discutiremos depois), mas a Lei de Murphy é a coisa mais factual que há e mete um medo do caraças. Esperemos que não se aplique ao Benfica, que é o que interessa.
"Benfiquismo sentimental em formato pedagógico. E às quintas-feiras temos existencialismo futebolístico." - confere.
Um dos livros da minha vida.
Amanhã volto para dizer mais qualquer coisa.
Não conheço. Fiquei com vontade de ler.
Quis comentar este post antes, mas nao sabia bem o que dizer.
O Chesterton e' muito bom, O Homem Que Era Quinta-Feira e' uma viagem, o Murphy e' lixado.
Mas nao chega. Posso sempre acrescentar que acho de mau tom se a discussao que o M. menciona acontecer e eu nao estiver presente.
Abraco.
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