Saímos de Lisboa estava aquele sol de bronze dos nossos invernos. Não sei se outros sítios do mundo possuem, em Janeiro, um sol assim: castanho e suave, a embeber as coisas, fazendo-as brilhar com suavidade, sem histerismos. Mais tarde vim a pensar: “eis o esplendoroso sol de campeão”. Nestas alturas, pensamos em muitas coisas. Melhor: pensamos nessas coisas e não as censuramos. Tudo o que, em pensamento, é potencialmente disparatado ou sem jeito passa a ser justificado. A lua estava cheia - “para iluminar a liderança” -, a noite foi das mais frias – “revelando a têmpera do primeiro de todos” -, o sol todo ele era esplêndido – “o esplendoroso sol do campeão”. E, neste momento, tudo faz sentido, nada disto é mentira ou exagero. Há um dia em que todo o cosmos se alinha e se corrige, reencontrando o caminho da justiça. E esse dia foi ontem. Hoje é o primeiro dia da continuação.
Havíamos visto o duelo infame da noite anterior e o sentimento era generalizado: que injustiça! Como pode o Benfica não ser o primeiro deste campeonato – e destacado?! Digo-o sem pudores: há uma diferença muito grande entre este Benfica e os seus rivais mais próximos. O futebol que Um e outros jogam não merece traduzir-se em pontuações tão aproximadas. Enquanto o Benfica gere 90 minutos alternando classe e luxo com algumas cautelas e esforço moderado, os outros dois dão a sensação de que perdem quilos e quilos em campo para conseguirem um miserável e feio empate sem golos. Atenção: se há coisa que aprecio é o esforço e a abnegação dos jogadores, o espírito combativo em busca do resultado – não me entendam mal. Mas dá gosto perceber que o Benfica só precisa de entrar nesse registo se tudo – mas tudo – correr muito mal, porque até lá haverá charme e elegância de sobra para se ganhar jogos como se se desse lições de etiqueta.
Tal como este sol que me é dado pelo nosso Inverno, o regozijo e a satisfação que o Benfica me oferece não são histéricos. São, sobretudo, belos. Mas o espectáculo sobre a relva é ainda mais que isso: é prático e glamouroso, revigorante e concentrado. Há muito futebol neste Benfica, futebol de topo. E não falo da ilusão que foi 2009-2010 – degrau necessário na ascensão à excelência, talvez, mas ainda uma obra com demasiadas imperfeições. Falo de uma equipa amadurecida que soube transitar da vertigem do “rolo compressor” para a sumptuosidade sádica de quem sabe o quanto é valioso e pode ser letal. Há malvadez nesta equipa – para além de talentosos, eles são pacientes e eles são calculistas. Fazem questão de deixar que o adversário se iluda, que julgue, ingenuamente, poder discutir o resultado. E, depois, mostram-lhe que, afinal, não, não é bem assim. Segue-se, normalmente, um período de destruição pura – e, porém, nada sôfrega (isso eram hábitos de antigamente).
Hoje, um jogo do Benfica já não é só “para ganhar”; o momento deve ser aproveitado para que se demonstrem superioridade e nobreza. É um futebol snob, sim. Mas de uma aristocracia plenamente habilitada – e sobretudo poderosa.
8 comentários:
Ora que belo regresso! Já chegava de férias, não?
Há, de facto, malvadez e snobismo nesta equipa. E é tão bom ver isso em campo.
Sim, é mesmo isso, malvadez e snobismo! Havia alguma necessidade do Cardozo mandar aquela bola a 100km/h e do Rodrigo enviar uma bola para a baliza com uma precisão de tacada de Golf ou de snooker que até parecia que o defesa ia lá chegar? E do Bruno Cesar fazer aquele passe que se fosse o Messi era um video no youtube com 450 mil views em meia hora? Sinceramente...
Diego,
Esta equipa quase podia dar um anuncio bem sucedido à Gillete: maturidade com pouca barba. E neste parametro temos que referir o Witsel. Dizer que nem faz a barba é banal no caso dele. O que se passa ali é que o jogo do SLB é liderado por um tipo que parece ainda ter dentes de leite mas que tem mais maturidade que o passos coelho. Faz-me um pouco de impressão e causa-me descontentamento olhar para mim, rapaz de barba farta e rija com 1 ou 2 dentes minados pela cárie (e 1 partido por um sugu) e ver que tenho a mentalidade de um puto comparando com o bom do Axel.
Abraço.
Diego veio de lesão prolongada, recuperou bem e entrou no jogo para um poker. Todos os golos magistralmente acompanhados por passes de Bruno César.
Nem mais.
Faz lembrar quando jogo à bola com o meu filho de 4 anos. Inevitavelmente ganho o jogo, se quiser, mas ele acaba todo contente porque partilhou o campo comigo e vai para a cama sonhar que quer ser como eu quando for grande.
o Leiria e o Cajuda pareciam o filho embevecido ontem.
PS: A verificação de palavras é "conas". Lol
Bom texto como sempre me habituaste.
E o que achaste do nosso Djaniny?
Abraço
Desde já quero aqui declarar veementemente que sou contra golos como o 1º do Rodrigo. Direi mais, o povo Português terá que demonstrar claramente ao SLB que está contra este tipo de golos, e pode faze-lo já no proximo jogo na Luz enchendo o estádio, sobe pena do governo vir com o argumento e neste caso comprovadamente válido de mais um desvio colossal.
SLB1958
Sabe bem voltar de ferias e ver que o o facto do Benfica estar no lugar devido inspira a qualidade de posts como este, do Ricardo ou do M.
Um bem-haja desde o outro lado do mundo, onde o sol brilha forte e quente para que a paixao nao se esfrie com a distancia (impossivel, eu sei, mas o sol nao).
PS - a verificacao de palavras e' "warred". E uma guerra vermelha comeca agora, de facto.
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