quarta-feira, 7 de março de 2012

Fleumaticativatematicamente

Terça-feira da semana passada, fui comer umas favinhas com chouriço e entrecosto ali a um restaurante na Rua dos Bacalhoeiros que é o Fernando. Uma pequena maravilha aquelas favas, a fazer lembrar as que a minha mãe me fazia. Não sei por que menciono o assunto, mas suspeito que seja por estar cheio de fome. Quando tenho fome e estou a escrever, torna-se inevitável: falo do prato que verdadeiramente me apetece. As favas com entrecosto são um cozinhado especial por várias razões: dos coentros ao chouriço, passando pelos ingredientes que dão nome ao prato, há todo um pequeno cosmos de elementos que me sugerem paixão – pelos sabores – e fleuma – pela maneira especial como gosto de comer as favas e pela única forma de digerir o ingerido: fleumaticamente.

Paixão e fleuma, coentros e chouriços. Meus Deus, como a gastronomia é parecida com o futebol. Depois de quase duas horas de fervorosa paixão, que foram o culminar de três semanas de sonos agitados e incompletos, dou, finalmente, por mim todo eu fleumático. Vou dizer “fleuma” e derivados até ao fim do texto. Gosto. Fleuma. Parece que aprendi uma palavra nova. Uma palavra fleumativa. Estas semanas talvez me tenham tirado alguns anos de vida. Mas hoje não é dia de pensar nisso. Hoje o mundo está em ordem. E temos tempo. E está sol. E calor. Isto é um encanto.

Pego n’ O Jogo e vou directo ao assunto: penúltima página. Há alguém neste jornal com uma profunda tara por rabos anormalmente grandes. Não sei que diga. Bom, passemos à última página. Oh, que maravilha… o José Manuel Ribeiro parece desapontado com o seu Zénit. Noto aqui um tom amarguinho, um ligeiro engasgo. O José Manuel Ribeiro não é um mau tipo. Mas é demasiado transparente. No fundo, toda a sua crónica podia ser resumida a «filhos da mãe, ainda não foi desta que acabaram». É verdade, José. Nem com o vosso mastronso em campo, a mandar chouriços para o terceiro anel, vocês conseguiram segurar a preciosa vantagem. É uma pena.

N’ A Bola, o inqualificável Eduardo Barroso lambe as mãozinhas depois do pequeno manjar: o Porto ganhou ao Benfica. Ai, que bom, Eduardo! Parabéns, Eduardo! Aparentemente, nem o jogaço de sábado tirou a fleuma ao Eduardo. Espirituoso como poucos, e sempre sob a capa do sportinguista que é apenas e só do «seu querido Sporting», Eduardo Barroso deixa-se apanhar, aqui e ali, lambão e sorridente, ainda a digerir o magnífico feito do seu anjo vingador. Não viu a Liga dos Campeões e ainda bem, que não queremos apoquentá-lo com provas que não dizem, nunca disseram e provavelmente nunca dirão respeito ao seu clube. Um arrotinho, Eduardo, vá lá, que isso até lhe faz mal.

Que bonito dia. Leio o José António Saraiva e não consigo segurar um sorriso cândido na parte em que diz «tive logo [na lesão de Rodrigo na Rússia] a percepção de que a sorte para o Benfica estava a mudar». É extraordinário como certas pessoas “têm logo” estas percepções. Encanta-me sabê-lo.

Está mesmo calor, parece Primavera. Não me apetece trabalhar. Apetece-me, isso sim, ir para uma esplanada tirar apontamentos acerca dos nossos potenciais adversários nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Quem é que patrocina isto? É a Heineken? Pode ser com Heineken, então. Não me apetece ser esquisito. E, no fim, saio daqui e vou direitinho ao Fernando.

3 comentários:

Helena Henriques disse...

Até eu fiquei desapontada com o Zenit, e vocês bem mereciam levar mais um balde de água fria cacholinha abaixo. Mas agora estou contente, aquelas declarações do JJ a seguir ao jogo... hummmm têm tudo para lhe correr tão mal. Adoro ver o estatelanço de um Marialva. Mau feitio, eu sei.

Diego Armés disse...

Oh, Elena, tu não aumentes mais o meu regozijo com esta vitória. Daqui a pouco, rebento...

mago disse...

Devido `a distancia,

- Parte boa do post: lembrar o Fernando e a tradicao de la' jantar ao fim-de-semana (o bar fica logo ali ao lado). Choquinhos `a algarvia... Tao bom.

- Parte simultaneamente boa e ma' do post: nao poder / ter de ler Joses e Eduardos.

- Parte ma' do post: nao poder continuar a tradicao do Fernando ao fim-de-semana.

Cheers.