Pontapé de saída e eu avanço suavemente com o peão para e4, a guardar a saída do extremo direito, um cavalo que tenho chamado Gaitán. Desde cedo percebi que seria ele a chave do sucesso. O desenrolar foi natural e a serenidade só se quebrou quando, na coluna da dama (a Tacuara), avanço o peão para d4, um engodo singelo. Djalma reagiu impetuoso, entrou de carrinho e comeu-me o peão. Gaitán foi e fez-lhe a folha com naturalidade. Vantagem para a equipa da casa logo aí.
Do lado oposto, reinava a confiança. Transparecia de Djalma um sentimento de superioridade, uma soberba que, de resto, não passaria impune. A partir daí, Gaitán foi fazendo cabrioladas e toques de calcanhar desarrumando toda a linha defensiva de um adversário que não se enxergava, que jogava o jogo pelo jogo na certeza de que, mais cedo ou mais tarde, a minha equipa cometeria um erro defensivo de palmatória permitindo o avanço inexorável de um ataque claramente transbordando moral.
É então que o bispo do Eusébio - esse que não joga, mas que ainda impõe respeito -, Maxi, entra em acção com uma diagonal exemplar, baralhando as marcações de Djalma. Passou nas costas de Gaitán e tomou a dianteira em c4. Uma vez mais, era engodo: nesta fase, a coluna de Tacuara estava aberta e segura, não havendo marcação possível ao temível avançado. O ataque final estava perto.
E é este o momento em que gostaria de chamar a atenção de Jorge Jesus: eu poderia ter optado por forçar o ataque até à baliza, mas o risco era ainda grande. Apesar do excesso de confiança de Djalma, preferi jogar pelo seguro: o cavalo de Djalma em e5 ainda podia criar-me problemas, caso eu decidisse avançar para a área de imediato. Procedi à circulação de bola, desarrumando esse cavalo com o regresso de Gaitán à direita.
Fi-lo com a maior classe: libertei o cavalo na meia direita, atacando o cavalo opositor - mas não levava guarda, Gaitán estava sozinho, era um alvo fácil. Engodo, claro. Djalma, porém, sentindo-se superior, leu o meu jogo como um erro (por esta altura, havia um empate a um peão em 12 lances) e optou por apostar na superioridade numérica: deu-me o golpe com o cavalo de e5 em Gaitán (g4) - um 2 a 1 para Djalma perfeitamente ilusório -, deixando uma diagonal aberta e indefesa para Tacuara surgir na cara do golo, protegido por Maxi em c4.
Tacuara avançou sem oposição, recebeu a abertura, dominou com toda a calma, e, completamente sozinho, aos 14 lances de jogo, desferiu o golpe letal em f7. Foi só encostar para a baliza deserta.
6 comentários:
Diego,
Numa jogatina a preto e branco com um corrupto, a vitória não deveria ser alcançada através do aniquilamento do rei mas sim mediante o fuzilamento do bispo (à falta de superior herarquico clerical).
Abraço.
PS - a quem interessar... ecito actingn (até porque errei o primeiro captcha)
Fosse eu dono de um jornal desportivo e dava-te uma coluna para escreveres todas as semanas.
Pá, o Maxi é uma torre. Parece-me óbvio. E o Tacuara é o Rei. A Dama é o Aimar.
Bispo só temos um, que é o Nolito.
Mr. Shankly, esse nome, sendo uma instituição, não lhe dá poderes opinativos sobre a matéria em questão. Na minha equipa mando eu! Se quer construir uma, increva-se em Chess.com e desafie-me (diegoarmes). Tiramos as teimas.
Mas como pode o Maxi, que desde o primeiro minuto corre quilómetros para trás e para diante, ser uma torre, peça que só se move já com o jogo a meio do tempo regulamentar? Hum? E como pode o Aimar ser a dama, se a dama só é usada por mim para finalizar e nada mais? Hum? Eu nem jogo com Aimar. Jogo com Javis e Maxis e Gaitáns e Tacuaras. Sobre o Rei, não me vou alongar: só há um, Eusébio e mais nenhum. E esta parte é indiscutível.
Diego, não quis ofender. Da forma como utilizas a Dama, talvez tenhas razão: é o Tacuara. Mas parece-me pouco para a peça com mais potencial do jogo.
Em relação ao Rei, não vou discutir. Cheque-mate para ti. Mas o meu raciocínio é: pouca mobilidade, muito tamanho e uma importância vital no jogo = Tacuara.
Em relação ao Maxi, bom ponto o do tempo de entrada em jogo. Por outro lado, o Maxi anda, qual locomotiva, para trás e para diante. Para trás e para diante. A mim lembra-me uma torre.
Não me quis imiscuir na tua equipa, pá. Desculpa lá isso. Estava a falar em termos xadrezísticos erais. A propósito, desafo aceite ;)
Isto foi a táctica que usei para esta partida, específica. Eu não sou de teimas malucas, como certos treinadores. Num jogo menos matreiro e mais aberto, é o Witsel quem faz de dama.
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